domingo, 10 de março de 2013

A TROPA E A RALÉ


Os números são como o teste do algodão: não enganam. Em Espanha há 2,75 militares por mil habitantes, na Alemanha 2,5 e em França 3,47. Em Portugal há 3,7. Para um país em crise como a que atravessamos, é demasiado—de todo inaceitável. O caricato da situação é termos 18 mil praças, 12 mil sargentos e 8 mil oficiais; ou seja, são mais sargentos e oficiais que praças.
O Ministro da Defesa quer cortar 8 mil no total, provavelmente bem. Tal propósito desencadeia reacções corporativas que raiam o inaceitável, com fundamento em argumentos conceptualmente muito elaborados, mas fora da realidade que a Pátria vive. Os militares têm de perceber que, quando a Pátria não tem cão, caça com gato—é chato, mas é assim. Muitas outras coisas deviam estar melhor, eventualmente mais importantes, como a saúde e a educação, e não estão porque não há pilim. Pim!...
Além disso, por definição, em regime democrático, militar não pia. Também é chato, mas é assim. Quando militar abraçou a carreira, sabia disso. Militar é pago uma vida inteira para combater um único dia, se necessário, e deve viver a preparar-se o melhor que sabe para essa eventualidade com os recursos que lhe podem dar. Expõe a quem de direito e com compostura as suas mágoas, espera justiça e prepara-se para a guerra que pode vir, com tranquilidade e disciplina.
Vasco Lourenço, tenente-coronel na reserva ou reformado, diz publicamente que os militares não aceitam ser tratados como ralé. Vasco Lourenço tem de nos esclarecer se ainda é militar, ou já deixou de o ser. Se é, cala a boca pelas razões acima explanadas. Se simples pensionista da Caixa Geral de Aposentações, não fala em nome dos militares.
Lima Coelho, inefável figura de sargento, presidente da Associação de Sargentos, instituição com actividade inaceitável por tentativa de usurpação do papel normal da hierarquia, é militar e não pode tomar as atitudes que toma. No dia 20 deste mês, segundo ameaçou, vai entregar um "ultimato" da Associação ao Primeiro-Ministro, acrescentando: "Isto pode ser o princípio do fim do mandato do senhor Primeiro-Ministro". Deplorável!
Tropa assim não é tropa. Por este caminho deve ser tratada como ralé.
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