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Há tempos li no site da Edge Foundation um texto escrito pelo dinamarquês Tor Nørretranders que dá para pensar. Resumidamente, diz que durante muito tempo considerou o corpo como o hardware onde funciona o software mental. A verdade é que as coisas não são assim, afirma ele. O hardware das máquinas informáticas é estático, permanente, imutável. É sempre o mesmo, se o homem não o alterar. Nada comparável ao corpo. O corpo é antes como o rio que está ali, sempre com o mesmo aspecto pouco mais ou menos, mas constituído por átomos e moléculas a mudar constantemente por efeito da corrente para o mar.
Noventa e oito por cento (98%) dos átomos do nosso corpo são substituídos num ano. As moléculas de água permanecem no corpo duas semanas, e ainda menos nos climas quentes. Os átomos dos ossos mantêm-se lá apenas alguns meses. E, embora haja átomos que se mantêm anos, nenhum nos acompanha do berço até à morte. Claude Bernard, notável fisiologista francês, quando falava da grande quantidade de água de que o nosso organismo é feito, dizia que o homem vive na água. E acrescentava: vive na água, mas em água corrente!
É verdade! O que é constante em nós não é material. A pessoa incorpora, em média, 1,5 toneladas de matéria cada ano, sob a forma de alimentos, bebidas e oxigénio. Toda essa matéria tem de se transformar em nós, depois de ter sido parte de batatas, arroz, galinhas, ovelhas, bovinos, alface, e por aí fora. A mente funciona como a música que passa do vinil para as fitas magnéticas, para o CD, para os Pods, e outros suportes, sem perder a identidade.
Deste ponto de vista, podemos dizer que vivemos em permanente reincarnação, enquanto existimos com a mesma identidade mental. Identidade mental assegurada pelo património genético. Mas podemos voltar a reincarnar parcialmente depois de morrer, penso eu, porque parte dos nossos átomos podem ser incorporados noutros seres vivos de que nos alimentamos, e assim transferidos para outros seres humanos. Indiscutivelmente, a natureza da nossa individualidade é matéria demasiado complexa.
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