No rescaldo do festival abstencionista de ontem, em que,
em cada 100 eleitores inscritos, 8 votaram no PS e 7 na coligação PSD/CDS, é
difícil suster a gargalhada quando se ouvem representantes dessas instituições
menores a comentar os resultados. Desde a "derrota histórica da
direita portuguesa" de Francisco Assis, inchado de satisfação e comida em demasia, até
Pires de Lima—ao tranquilizar-nos, afirmando que "o Governo tem condições
para ganhar as legislativas"—e Aguiar Branco segundo quem "os
resultados permitem encarar com confiança o caminho trilhado", é um fartar
de asnear. Quando terão os políticos o senso comum bastante para não falar aos
cidadãos como se estes fossem atrasados mentais?
Depois da banhada de ontem, de que eventualmente terão
sido excepção o PCP e Marinho e Pinto, mandava o pudor ficar calado, coisa que até
Hollande percebeu. Mas, como já ontem referi, estes janotas não estão no serviço
público porque estão ao serviço deles próprios. É ali que ganham a vida, ou é
ali que criam as condições para a ganhar confortavelmente noutros misteres. Não
lhes interessa passarem por vendedores de banha de cobra, desde que isso renda na
carreira partidária. E também não têm vergonha ao ver claramente que 74% de
abstenção e votos nulos e brancos é um escarro que o eleitorado lhes lança em
cima, para não falar dos que votam ironicamente em partidos como o PTP de José
Manuel Coelho, como eu fiz.
O problema é não bastar substituir esta classe política
porque atrás dela vem outra que rapidamente sofre as mesmas mutações, de
faríngula a vertebrado primeiro, seguindo-se a fase invertebrada da alforreca,
capaz de cantar vitórias eleitorais em noites de farroncada ridícula. Uma
lástima!
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