O vinho é o sangue da
Terra. Se quisermos ouvir o que tem para nos dizer, é necessária alguma tranquilidade. Este é um dos muitos
pensamentos possíveis a respeito do precioso néctar, que faz toilette para
abrir o tema, qual é o da origem da bebida mais importante da História
da humanidade, incluindo cultos religiosos.
Ninguém sabe com precisão
onde começou a ser produzido e consumido. Segundo a lenda, Jamshid, rei da mitologia
persa, terá guardado uvas num vaso para as comer no Inverno. Quando o frio
chegou, Jamshid encontrou uvas desfeitas
mergulhadas num líquido borbulhante. Pensando tratar-se de feitiçaria, não comeu
e proibiu o seu consumo. Certa noite, uma concubina doente caiu sobre um vaso e
bebeu do líquido. Adormeceu profundamente e acordou curada. Terá sido o
primeiro caso, eventualmente o único, a que a uma enorme ressaca se chamou cura
mágica.
Do antigo Egipto também
não vem informação, embora fosse usado para simbolizar sangue em cerimónias
de vária índole. Na sepultura do famoso—e folclórico—King Tut foram
encontrados 26 barris de vinho, rotulados com informação da origem, do produtor
e do ano.
Na Bíblia o crédito vai
para Noé, que cultivaria a vinha, além de construir grandes navios, mas sem
referência ao modo como descobriu a fermentação.
Em boa verdade, sabe-se—de palpável—que os primeiros indícios vêm da Geórgia Oriental, onde
terão surgido os primeiros agricultores, num sítio chamado Dmanisi, a meio
caminho entre o Mar Cáspio e o Mar Negro, na faixa de terra que liga o Médio Oriente
à Eurásia, uma das primeiras paragens na grande marcha épica de dois milhões de
anos da humanidade, da África para os quatro cantos do planeta. Aí terá
nascido o vinho, há 8.000 anos, feito a partir de uvas da Vitis vinifera, videira que cresce, qual
serpente, enrolada nas árvores e dá densos cachos de uvas deslumbrantes. Um dia
irei ao Tavares e informar-me-ei se ainda têm vinho dessa colheita. Depois informo os leitores.
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