A arte ocupa-se do belo e
da beleza, seja das formas, como nas artes plásticas; das ideias, como na
oratória, ou embaladas em palavras, como na prosa e poesia; do movimento, como
no bailado; dos sons e muito mais. A beleza não pode ser definida
objectivamente. Como diria Ortega y Gasset depende de nós e da nossa circunstância.
A ciência busca a verdade,
as leis que regem o mundo, o modelo do universo. Não tem nada a ver com arte e
beleza, porque é objectiva. Será? Há opiniões.
Quase a celebrar 100 anos,
o que acontecerá no próximo ano, a teoria da relatividade de Einstein serve
para explicar a dúvida. Tal teoria começou por ser isso mesmo—uma concepção
intelectual—e só em 1919 foi confirmada experimentalmente por Eddington que
observou o desvio da luz de uma estrela pela gravidade do Sol, durante um
eclipse. Einstein não estava muito
preocupado com a confirmação e quando recebeu a notícia declarou que, se a teoria
não tivesse sido confirmada, teria pena de Deus; acrescentando ainda que era
demasiado bela para estar errada.
Bela, como?—perguntar-se-á.
A resposta sente-se, mas não se explica, como acontece com toda a arte. Há
qualquer coisa inexplicável na beleza. Para sentir a diferença, leia-se um texto do Padre António Vieira e outro de Baptista Bastos—a piroseira do
burilado do Bastos, autêntica renda de bilros saloia e rebuscada, salta à vista
e estraga o parido.
Portanto, a beleza da
ciência e das teorias científicas é matéria tão intangível como a beleza da
arte. Uma coisa—sine qua non—a
enforma: a simplicidade. Um génio, cuja identidade não recordo, disse um dia
que, se virmos uma folha de papel cheia de fórmulas complicadas para demonstrar
uma teoria, não vale a pena ler porque a teoria está errada. Tal e qual. Aliás,
já o frade franciscano Guilherme de Ockham dizia, no Século XIV, que entre
várias teorias para explicar um fenómeno físico, deve escolher-se a mais
simples porque é a mais provavelmente certa—"navalha de Ockham".
Simplicidade e espírito
sintético encerram a beleza—na ciência, na arte e em quase tudo na vida. É difícil
fazer carreira a complicar, a não ser que a opção seja a política.
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