quinta-feira, 29 de maio de 2014

O ROL DA NOSSA IGNORÂNCIA

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O homem começou a evoluir de forma diferente do chimpanzé há cerca de 6 milhões de anos. Hoje, salvo algumas excepções, em particular na classe política, a diferença é notável. O que distingue os dois primatas é muita coisa, mas sobretudo dois aspectos: o chimpanzé adulto tem cerca de três vezes mais força que o homem, mas o cérebro é o que se sabe, embora seja o animal mais inteligente a seguir ao homem. Como alguém já disse, o homem é o animal, mais inteligente do planeta, mas não pode orgulhar-se muito disso uma vez que o segundo é o chimpanzé.
Investigadores chineses estudaram 10.000 metabolitos, a que agora se chama imaginativamente metaboloma—conjunto dos compostos envolvidos no metabolismo—de cinco tecidos  (três do cérebro, um do rim e outro de músculo da coxa) de quatro espécies animais—homem, chimpanzé, macaco rhesus e rato. Comparando as diferenças, concluíram que a evolução no homem "investiu" sobretudo no cérebro, com prejuízo da massa muscular; ou seja, a melhoria do metabolismo cerebral, que permite um desempenho notável quando comparada com outros animais, mesmo primatas, teve custos.
Esta é a versão chinesa da fábula músculo-cerebral. Digo isto porque há mais teorias. Daniel Lieberman, biólogo evolucionista de Harvard, por exemplo, acha que não. Segundo ele, pelo contrário, foi a capacidade física do homem—que lhe permitia correr e caminhar longas distâncias—a causa do desenvolvimento superior do cérebro. Tais performances ajudavam-no a procurar melhor alimentação, sobretudo caça, alimentação essa que faria carburar cérebros mais poderosos e maiores—o mesmo que atestar um "Smart" com gasolina de avião e vê-lo voar sobre o rio Tejo, sem pagar a portagem da ponte.
Ao ler isto, não pude evitar a recordação de Paul Saffo, de que falei há dias, quando dizia: "O establishment científico justifica a sua existência com a ideia de que nos oferece respostas e soluções. Mas, no privado, cada cientista sabe que a ciência descobre apenas a profundidade da nossa ignorância. A esfera crescente do conhecimento científico não é a luz que põe fim à noite, mas apenas pequena fogueira no meio da escuridão de um vasto mistério. Avaliemos o progresso, não pelo que descobrimos, mas antes pelo rol do que ignoramos e nos faz ver o pouco que sabemos".
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