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O cérebro humano tem capacidade de coordenar e
relacionar a informação oriunda dos vários órgãos dos sentidos. Se
assistimos a um concerto de Yo-Yo Ma, associamos a música que ouvimos com a execução do músico que vemos. O exemplo é
careca, mas não há nada como ir do geral para o particular, do simples para o
complicado.
Sem esta capacidade, a informação oriunda dos sentidos
seria caótica, intratável e inútil, naturalmente. O galo que ouvimos cantar de
manhã no quarto às escuras significa para o cérebro que o dia está a começar e
são horas de alçar a caganeta da cama. O cheiro a sardinha frita faz-nos
salivar, mesmo sem a comer, ou sequer ver. A associação da informação é a arma
do nosso sucesso. Quanto melhor associamos, melhor pensamos e actuamos.
Mas quando este mecanismo "descarrila", ou
sofre perturbações do padrão de detecção, começamos a asnear. Acontece em
algumas doenças mentais e chama-se a isso apofenia. Acontece também em pessoas normais—ou consideradas
oficialmente normais—e traduz-se em coisas como a superstição, com associações de acontecimentos desagradáveis, tristes, trágicos, mesmo fatais, ao uso
de cuecas às riscas, gravatas às bolas, ou do emblema do Sporting. O último
exemplo não é feliz porque a associação é muitas vezes pertinente, mas não
interessa isso agora.
Por exemplo, o Tozé Seguro é um nabo—afirmação escolhida
porque não carece de ser demonstrada. Tozé vive na intranquilidade porque também
ele sabe que é um nabo—sabe porque quando olha para Passos Coelho é como se
estivesse a ver-se ao espelho.
Mas o que queria dizer não era isto e peço
desculpa pelo aparte. Tozé viveu meses de sofrimento atroz à espera do resultado
das eleições europeias. A associação de sofrimento atroz com eleições europeias
é uma apofenia neste caso, pois nada justifica um líder político andar meses a
sofrer com a perspectiva de um resultado eleitoral. Se ganha, ganha; se perde,
perde: faz o funeral do emprego e vai à vida. O exemplo fica completo se Tozé
andou todo o tempo pré-eleitoral com as cuecas rosa que usou no dia em que foi
eleito Secretário-Geral do PS—estaremos então em presença de dupla
apofenia.
Aliás, diga-se en passant e a propósito, Assis também é apofénico.
Assis associa a sua imagem de político com a de ser diferenciado—o mais
apofénico possível!
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