quinta-feira, 22 de maio de 2014

E DEUS DISSE FAÇA-SE NEWTON

.
As leis da  natureza estavam ocultas na noite;
E Deus disse "faça-se Newton" e tudo se transformou em luz.

Alexander Pope



Paul Saffo é professor associado da Universidade de Stanford, "Technology Forecaster" e conhecido ensaísta. Tem um site digno de atenção e acompanhamento que recomendo (www.saffo.com). Hoje, porque é pequeno, publico um desses ensaios, pedindo desculpa a Saffo pelo atrevimento de o ter traduzido—espero não ser preso por esta traição (traduttore, traditore).

O espantoso avanço das descobertas científicas tem o desconhecido como rota. Não há muito tempo, a Criação tinha ocorrido há 8.000 anos e o Paraíso estava alguns milhares de milhas por cima das nossas cabeças. Agora a Terra tem 4,5 mil milhões de anos e o universo observável estende-se por 92 mil milhões de anos/luz. Pegue-se em qualquer área científica e a história é a mesma, com novas descobertas—e novas extraordinárias maravilhas—surgindo quase diariamente. Como Pope, ficamos maravilhados com a forma como a natureza se revela à luz da ciência.
O cada vez maior corpo do conhecimento científico evoca  a metáfora da noosfera de Teilhard de Chardin, a crescente esfera da compreensão e pensamento humano. Para o nosso optimismo, tal esfera é uma bolha de luz em expansão na escuridão da ignorância.
O optimismo leva-nos a focar o conteúdo da esfera, mas o mais importante é a sua superfície porque é aí que acaba o conhecimento e começa a escuridão da ignorância. À medida que o conhecimento se expande, cresce igualmente o contacto com o desconhecido. O resultado não se limita  meramente a termos mais conhecimento (volume da esfera), mas também a encontrar um volume de mistérios inimagináveis em expansão permanente.  Há um século, a Astronomia não sabia se a nossa galáxia  era o universo todo; agora diz-nos que provavelmente vivemos num arquipélago de universos.
O establishment científico justifica a existência com a ideia de que nos oferece respostas e soluções. Mas, no privado, cada cientista sabe que a ciência descobre apenas a profundidade da nossa ignorância. A esfera crescente do conhecimento científico não é a luz que põe fim à noite, mas apenas pequena fogueira no meio da escuridão de um vasto mistério. Avaliemos o progresso, não pelo que descobrimos, mas antes pelo rol do que ignoramos e nos faz ver o pouco que sabemos.
.

Sem comentários:

Enviar um comentário