Diz-se às vezes que os cientistas só acreditam
naquilo que vêem e palpam. Talvez isso fosse verdade há 100 anos, mas hoje é
uma bacoquice. Desde logo porque a ciência não é uma actividade intelectual de
crenças; e depois porque os cientistas se ocupam hoje mais do invisível que do visível
e palpável.
O campo magnético da Terra
é fácil de detectar com a agulha da bússola, mas não o vejo, nem sinto; embora
haja animais que provavelmente o detectam de forma desconhecida e o utilizam na
navegação das migrações e até no posicionamento no espaço, como parece
acontecer com vacas em liberdade nos campos.
A gravidade mata-me se
ultrapasso o limite da minha varanda e me estampo na rua, mas também não a vejo.
É fundamental no universo, mas perigosa para quem sobe muito alto—quanto mais
alto se sobe, de mais alto se cai e maior é o trambolhão: Ricardo Salgado que o
diga. Mas a sua ausência é um problema. Os astronautas da Estação Espacial
Internacional todos os dias percebem isso quando se sentam na sanita e os
"alívios" não descolam, nem vão ao fundo.
A matéria negra constitui
mais de 90% do universo, sem ela este já tinha acabado e ninguém a vê. Em bom
rigor, devia chamar-se invisível porque o negro vê-se—como vemos o futuro de
Portugal—e ela não se vê. Sabemos que está lá, indirectamente, pela acção da
sua gravidade na mecânica celeste.
Querem mais? Não posso
encher o dia com todo o substrato invisível da ciência, até porque alguns são
mais complicados e chegavam para posts indigeríveis. Por exemplo, as ondas de electrões, as partículas virtuais,
as hipotéticas quarta, quinta, sexta, sétima, oitava, nona, décima, rebabá dimensões e por essa estrada fora.
Coisa entre o mundo real e o mundo da imaginação. Estou um nadinha "passado",
mas tanto também não.
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