O que se transcreve a seguir é a maior parte do artigo de Pedro Sousa Carvalho no jornal "Público" de hoje. Não carece de nenhuma explicação—antes ou depois. Apenas do aviso para taparem o nariz pois a personagem nele referida tresanda.
[...] Mas há casos que desafiam a compreensão e o de António
Capucho é um deles. Esta semana, o antigo presidente da Câmara de Cascais
conseguiu dizer que é independente, que admite regressar ao PSD, se os
sociais-democratas mudarem de líder, mas também diz que pode vir a estar com o
PS, “se for convidado para voos mais altos”, e até admite “votar nos pequenos
partidos” e só não vota porque “Pedro Passos Coelho ainda ganha isto”. Isto
tudo numa única semana. Foi de uma ponta à outra do Parlamento, sentou-se em
todas as bancadas e hasteou bandeiras de todas as cores.
O que move António Capucho?
Diz, numa entrevista ao jornal i esta semana, que não se quer oferecer
para nenhum cargo. Já disse inclusive a António Costa do PS que o apoiava “sem
nenhuma contrapartida” e que não quer que fique a ideia de que faz isto porque
quer "um tacho”. Se não é o tacho, o que move Capucho?
O próprio diz que o seu futuro
político ligado ao PS está “completamente em aberto”, mas que, “se for
convidado para voos mais altos, não [diz] à partida que não”. Às
más-línguas dirão: "Não negues à partida um tacho que não conheces."
Um tacho é talvez uma forma deselegante de apelidar um cargo de nomeação
política. “Mas vê-se como deputado do PS?”, insiste o jornalista. O antigo
conselheiro de Estado responde: “Não tenho qualquer ambição política, mas não
posso negar uma situação que me interesse.” Uma ou duas perguntas mais à frente
acrescenta: “Politicamente não posso negar que, se aparecer uma coisa que me
interesse, não esteja disponível.”
António Capucho, militante
social-democrata desde 1974, já ocupou muitos cargos neste país. Já foi membro
do Conselho de Estado, secretário de Estado, ministro, deputado e eurodeputado.
No PSD, ocupou cargos como os de secretário-geral, vice-presidente e líder
parlamentar.
Em Janeiro de 2010, e depois
de dez anos na Câmara de Cascais, suspendeu o mandato por "razões de
saúde" e um ano depois renunciou ao lugar. Em Abril de 2011 desentende-se
com Passos Coelho porque não queria ser candidato a vice-presidente da
Assembleia da República, mas sim a presidente. Queria voos mais altos. E puxou
dos galões: "Não aceito a minha secundarização face a alguém que não tem
currículo político minimamente comparável." E disse mais: "Se o
partido deseja a minha candidatura ao Parlamento não pode ignorar –
desculpem a imodéstia – que fui vice-presidente do Parlamento Europeu, ministro
dos Assuntos Parlamentares e líder parlamentar, para além de todos os outros
cargos que o meu currículo atesta."
Passos Coelho não se
emocionou. Não só não o convidou para o lugar, que já tinha reservado para
Fernando Nobre, como em Maio desse mesmo ano ainda o "desconvidou" do
lugar do PSD no Conselho de Estado. Capucho lamentou na altura só ter “sabido
pelos jornais”. Mas tarde, em 2013, mostrou-se disponível para ser presidente
da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP), cargo que é de nomeação do ministro da Defesa.
Pediu uma audiência a Aguiar-Branco e, segundo contou na altura ao jornal Sol, esta hipótese nasceu de uma série de
pessoas ligadas à CVP que o convidaram a avançar para a liderança da
instituição. Passos Coelho continuou a não se emocionar.
Na altura, Capucho ainda avisou: se não avançasse para a
CVP, estaria “disponível para encarar uma candidatura autárquica”. Assim foi,
ou melhor, assim não foi. O PSD não o escolheu nem para uma coisa, nem outra e
Capucho escolheu candidatar-se à Assembleia Municipal de Sintra pela lista
independente Sintrenses com Marco Almeida, um ex-PSD. Por apoiar um candidato
contra as listas do PSD, foi expulso. Assim mandam os estatutos do partido do
qual ele próprio foi co-autor. Capucho não gostou e voltou a puxar dos galões.
“Não há ninguém no partido que tenha um currículo igual ao meu”, disse na
altura ao PÚBLICO. Passos não se impressionou, nem se emocionou.
Em Maio do ano passado
voltámos a ouvir falar em António Capucho quando decidiu apoiar Francisco Assis
nas eleições europeias, demonstrando "admiração pelas qualidades pessoais
e políticas" do candidato. Na semana passada deu o seu apoio a António
Costa por lhe reconhecer “qualidades pessoais e políticas”. Na tal entrevista
ao jornal i, Capucho justifica: “Se o projecto for
interessante, não hesitarei em apoiá-lo.” O jornalista pergunta: “António Costa
dará um bom primeiro-ministro?” Ao que Capucho responde: Só depois de se abrir
a melancia se vê, mas acho que sim.” Enquanto Capucho vai descobrindo se o
projecto do PS é interessante e vai degustando a melancia, espera por voos mais
altos. A história e os cargos de António Capucho não se comentam, contam-se.
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