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Nos anos 70 do Século
XVII, Antonie van Leeuwenhoek espreitou por um microscópio uma gota de água e
encontrou um mundo novo: uma multidão de pequenos seres, parte da vida do
planeta escondida de nós. O homem, centro da biosfera, estava afinal rodeado de
seres inesperados de que nem havia suspeitado, seres provavelmente
irrelevantes, sem qualquer papel na sua vida, pensou.
Aprendeu depois que aquelas
insignificâncias, a que se chamou micróbios, mandavam no mundo. Causam doenças,
dão-nos saúde, decompõem os nossos restos mortais, estão na base da cadeia
alimentar, produzem oxigénio de que precisamos mais do que o pão para a boca e
mais um ror de coisas. Tal como a gravidade já fazia cair as maçãs ao chão
antes de Newton a descobrir, o microbioma já mandava em nós antes de van Leeuwenhoek
ver alguns dos seus elementos naquela gota de água. A partir da aquisição de
tal conhecimento, seguiu-se uma multidão de descobertas que constituem o actual
património da ciência biológica.
Chegados aqui, impõe-se uma
pergunta: a vida esgota-se no modelo que já se conhecia antes de van Leeuwenhoek,
acrescentado pelo que o microscópio lhe revelou?
Vida, de acordo com o conceito
actual, é uma forma organizacional da matéria que lhe permite replicar-se com
características semelhantes às do, ou dos progenitores, fenómeno controlado
pelos ácidos nucleicos, ARN e ADN. É só isto a vida? Tanto quanto sabemos, é. E
quanto ao que não sabemos? A porca torce o rabo quando interrogada sobre isso.
Imagine-se que estamos
como os antecessores de van Leeuwenhoek que só conheciam a vida
macroscópica e não suspeitavam de outras formas que só se viam por um canudo. Ou
seja, admitamos que há vida para além daquela que conhecemos—com canudo e sem
canudo—e que o problema não é de canudos, mas de conceito de vida.
Há factos para cuja ocorrência não existe explicação.
Para citar só um, digo que a quantidade de carbono na atmosfera terrestre é 5%
superior à que os seres vivos que conhecemos são capazes de produzir, incluindo
o que vem dos combustíveis fósseis. Donde vem o resto? Nobody knows!
E se alguém disser que é produzido por formas de vida que
desconhecemos? Provavelmente dirão que esse alguém está louco, como diriam a
quem falasse em micróbios antes de van
Leeuwenhoek. E se, para completar a loucura, se acrescentar que essas formas de
vida são alienígenas? E ainda que algumas delas são inteligentes? E que o
Paradoxo de Fermi, de que falava há dias, está explicado? Provavelmente
vai tudo parar ao Serviço de Psiquiatria do Hospital Prisional S. João de Deus,
em Caxias—com colete-de-forças! Já têm acontecido coisas piores na História do Homo sapiens.
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