quinta-feira, 9 de julho de 2015

A BIOSFERA DESCONHECIDA

.
.
Nos anos 70 do Século XVII, Antonie van Leeuwenhoek espreitou por um microscópio uma gota de água e encontrou um mundo novo: uma multidão de pequenos seres, parte da vida do planeta escondida de nós. O homem, centro da biosfera, estava afinal rodeado de seres inesperados de que nem havia suspeitado, seres provavelmente irrelevantes, sem qualquer papel na sua vida, pensou.
Aprendeu depois que aquelas insignificâncias, a que se chamou micróbios, mandavam no mundo. Causam doenças, dão-nos saúde, decompõem os nossos restos mortais, estão na base da cadeia alimentar, produzem oxigénio de que precisamos mais do que o pão para a boca e mais um ror de coisas. Tal como a gravidade já fazia cair as maçãs ao chão antes de Newton a descobrir, o microbioma já mandava em nós antes de van Leeuwenhoek ver alguns dos seus elementos naquela gota de água. A partir da aquisição de tal conhecimento, seguiu-se uma multidão de descobertas que constituem o actual património da ciência biológica.
Chegados aqui, impõe-se uma pergunta: a vida esgota-se no modelo que já se conhecia antes de van Leeuwenhoek, acrescentado pelo que o microscópio lhe revelou?
Vida, de acordo com o conceito actual, é uma forma organizacional da matéria que lhe permite replicar-se com características semelhantes às do, ou dos progenitores, fenómeno controlado pelos ácidos nucleicos, ARN e ADN. É só isto a vida? Tanto quanto sabemos, é. E quanto ao que não sabemos? A porca torce o rabo quando interrogada sobre isso.
Imagine-se que estamos como os antecessores de van Leeuwenhoek que só conheciam a vida macroscópica e não suspeitavam de outras formas que só se viam por um canudo. Ou seja, admitamos que há vida para além daquela que conhecemos—com canudo e sem canudo—e que o problema não é de canudos, mas de conceito de vida.
Há factos para cuja ocorrência não existe explicação. Para citar só um, digo que a quantidade de carbono na atmosfera terrestre é 5% superior à que os seres vivos que conhecemos são capazes de produzir, incluindo o que vem dos combustíveis fósseis. Donde vem o resto? Nobody knows!
E se alguém disser que é produzido por formas de vida que desconhecemos? Provavelmente dirão que esse alguém está louco, como diriam a quem falasse em micróbios antes de van Leeuwenhoek. E se, para completar a loucura, se acrescentar que essas formas de vida são alienígenas? E ainda que algumas delas são inteligentes? E que o Paradoxo de Fermi, de que falava há dias, está explicado? Provavelmente vai tudo parar ao Serviço de Psiquiatria do Hospital Prisional S. João de Deus, em Caxias—com colete-de-forças! Já têm acontecido coisas piores na História do Homo sapiens.
.
.

Sem comentários:

Enviar um comentário