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[...] Actualmente, pode ser impossível perceber o verdadeiro equilíbrio entre os riscos e os benefícios dos tratamentos médicos só com base na consulta da literatura. [...]
[...] Em primeiro lugar, como provavelmente acontece em todas as áreas, há uma tendência para favorecer a ortodoxia instalada. Isso poderá ser mais perturbador na Medicina, visto que a própria ortodoxia é influenciada pela profusão de artigos favoráveis aos produtos, escritos anonimamente pela indústria farmacêutica ou por empresas de comunicação e educação médica que a indústria contrata para esse fim. Por sua vez, estas empresas pagam a médicos e farmacêuticos – incluindo “fazedores de opinião” – para que as apoiem, assumindo-se como autores oficiais dos artigos e, desta forma, eliminando qualquer ligação visível entre as opiniões expressas e as empresas produtoras. Isto faz com que pareça que existem entidades independentes de acordo com as representações favoráveis das evidências. Resumindo, a publicidade é publicada como se fosse ciência. [...]
[...] Os artigos sobre uma classe de medicamentos são normalmente muito mais favoráveis quando são escritos por pessoas com ligação às empresas do que quando são escritos por pessoas que não têm tais conflitos de interesses. Os avaliadores também podem rejeitar artigos que não sejam favoráveis à indústria. (Tal como acontece noutras áreas, os avaliadores são escolhidos a partir de um grupo de autores. Além disso, é raro pedir aos avaliadores que revelem conflitos de interesses, e estes mantêm-se anónimos, impedindo assim a revelação de avaliações tendenciosas). [...]
[...] As revistas de Medicina não são os árbitros independentes da qualidade dos artigos que se desejaria – são empresas que obtêm os seus lucros a partir da publicidade das empresas farmacêuticas e das vendas a preços inflaccionados à indústria de reedições de luxo de artigos favoráveis à própria indústria. Algumas revistas têm, alegadamente, lucros de muitos milhões de euros, pelo que há muita coisa em jogo.
Pelo menos três antigos editores-chefes de grandes revistas médicas americanas e britânicas escreveram livros a criticar o impacto negativo da indústria farmacêutica na Medicina. [...]
O transcrito são trechos de um artigo da autoria de Beatrice Golomb, professora associada de Medicina na Universidade da Califórnia. Tudo quanto diz corresponde fielmente à verdade e realidade. Ao longo de quase 40 anos, assisti àquilo de que fala e pior, porque fui autor avaliado, fui avaliador, fui responsável por uma sociedade médica que publica uma revista, assisti e participei em muitas reuniões científicas, e vi como se prepara a edição de livros e revistas médicas. E recentemente, fui espectador desse filme trágico-cómico da gripe suína.
Mas a Medicina, infelizmente, não tem o exclusivo desta vergonha. Neste momento, para dar só um exemplo, os ambientalistas pedem meças em tal matéria.
sábado, 6 de fevereiro de 2010
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