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No mundo da “nuvem” da computadorização os nossos dados – emails, ficheiros, fotografias, música – estariam arquivados remotamente numa “nuvem” pairando sobre nós, sempre lá para podermos acedê-la de qualquer aparelho que quisermos: computador, televisão, consola de jogos, ou telefone fixo ou móvel, embebidos na nossa mesa de cozinha, espelho da casa de banho, ou tablier do automóvel. Deveríamos ser capazes de aceder aos nossos dados de qualquer sítio, graças à sempre presente banda larga, e baixar muito ou pouco quando necessário. Em vez de instalar software no nosso computador, pagaríamos por ele só quando precisássemos.
A mais familiar e pioneira versão de um serviço baseado na “nuvem” é o web mail – Googlemail ou Hotmail – no qual as mensagens são arquivadas em servidores remotos a que se pode ter acesso de qualquer lado. O Google também faculta meios de as pessoas armazenarem e compartilharem documentos, de modo a que muita gente possa aceder ao mesmo ficheiro. O Facebook e o Twitter são grandes “nuvens” de informação pessoal mantidas numa nuvem colectiva. A Wikipedia é uma “nuvem” auto-gerida de informação produzida pelo utilizador. [...]
A cultura é o nosso sempre evolutivo armazém de imagens, textos e ideias, através do qual vemos e damos sentido ao mundo. A cultura, em sentido lato, ajuda-nos a enquadrar e dar forma à nossa identidade, para dizer quem somos e quando e de onde viemos. Não é qualquer coisa que escolhemos, mas antes qualquer coisa a que pertencemos; determina o que é importante para nós e como vemos o mundo. Uma cultura viva nunca está completamente fechada. Tal como a cultura é vital para marcar o que é importante para nós e explicar quem somos, também dar aos outros acesso ao que ela é constitui meio vital para nos compreendermos mutuamente, perceber o que compartilhamos e o que nos faz especiais.
Se a cultura nos dá muito do sentido de identidade, a criatividade ajuda-nos a ter sentido de acção: o que queremos ser e o que não queremos. A cultura dá-nos raízes; a criatividade, o sentido de crescimento. A criatividade é o meio de acrescentar e combinar o nosso stock cultural: permite andar, condicionados pelas nossas tradições.
O crescimento da “nuvem” digital mudará a cultura, a criatividade e a relação entre elas. Os armazens digitais de dados na “nuvem”, a banda larga ubiquitária, as nova técnicas de pesquisa e o acesso através de múltiplas máquinas, levarão a mais cultura, mais acessível que nunca para muita gente. Estamos também a viver uma época de proliferação massiva da capacidade de acrescentar e trabalhar dados culturais com ferramentas mais potentes e baratas para fazer música e filmes, captar imagens e reproduzi-las, desenhar e criar jogos. [...]
A equação da “nuvem” da cultura será assim:
Maior património cultural armazenado na forma digital + Maior acessibilidade ao público + Público melhor equipado com mais ferramentas para acrescentar criativamente a colecção = Crescimento exponencial da massa da expressão cultural = “Cultura Nuvem”
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Contudo, há ainda potencial para enriquecer as nossas culturas, compreendermos a cultura dos outros e gozar maior liberdade de expressão cultural. Tal possibilidade, nova forma de cultura global, só se manterá se resistirmos às ameaças dos governos e companhias, novas e velhas, à procura do controlo da “cultura nuvem” para servir os seus interesses. [...]
O transcrito são fragmentos do artigo intitulado “Cloud Culture”, da autoria de Charles Leadbeater, jornalista da área financeira que se tornou consultor em inovação, para clientes como o governo britânico e a Microsoft.
É uma bela e interessante peça publicada na página da “EDGE Foundation”. Pena ser demasiado extensa para o espaço de um blog. Ainda assim, pode ser lida no original clicando aqui.
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