Calar o ‘Sol’, ao contrário do que imaginam os ‘formalistas’, não é proibir a revelação de conversas privadas sobre assuntos privados entre amigos privados. É enfiar uma rolha na revelação de factos que, pela sua gravidade política, podem ter um incontornável interesse público: factos que lidam com a presuntiva existência de um ‘polvo’ governamental que, usando dinheiros públicos, pretendia controlar a comunicação social. Se existiam dúvidas sobre estes factos, a providência cautelar ajuda a dissipá-las: só por receio de danos irreparáveis para o governo alguém se antecipa a eles, tentando abater o mensageiro. No contexto de desconfiança em que vivemos, a providência cautelar não acautela coisa nenhuma. Apenas expressa uma consciência pesada.
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João Pereira Coutinho, In Correio da Manhã
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Perante aquilo que foi revelado na última sexta-feira pelo semanário ‘Sol’, José Sócrates só tinha duas opções minimamente dignas: ou desmentia de imediato tudo o que ali estava escrito ou apresentava nessa mesma tarde a demissão. Infelizmente, a dignidade não costuma receber muitas visitas do primeiro-ministro. Por isso, Sócrates preferiu zurzir contra o jornalismo de "buraco de fechadura", em mais uma actuação digna do Óscar da cara-de-pau.
João Miguel Tavares, In Correio da Manhã
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