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João
Miguel Tavares, colunista do "Público", é um jornalista que merece
ser lido, embora se possa não concordar com ele. Hoje publica a segunda parte
de uma carta dirigida a Pacheco Pereira, a propósito da participação deste no
plenário furta-cores da Aula Magna. O texto é longo, mas queria chamar a
atenção para o final. Diz assim:
[...] E é por
isso, caro Pacheco Pereira, que
embora eu simpatize com o seu discurso e comungue de muitas das
suas preocupações, não sou capaz de fingir um torcicolo para não
ver quem está sentado ao meu
lado. Sim, nós precisamos de uma
outra política e de outros
políticos. Mas não precisamos só
disso. Precisamos de uma
alternativa consistente. E precisamos—sempre, por razões de memória—de apontar o dedo a quem
andou a enterrar o país para
agora vir, de pança cheia, armar-se
em porta-voz dos pobres e
oprimidos. A hipocrisia tem limites.
E o caro Pacheco Pereira, com a
idoneidade que o caracteriza, deveria
ter olhos para ver isso.
Tal e qual. Roseta, Vítor Ramalho, Pinto Ramalho, para
não falar dessa alma que dá por Carlos do Carmo e ninguém percebe o que ali
fazia, têm o verbo fácil, é verdade. Mas em matéria de inspiração é o zero absoluto.
Acontece que nós, os que sofremos as consequências da desgraçada governação
vigente, há muito que deixamos de estar interessados em jogos florais
políticos. Indo directamente ao nó do problema, queremos saber como desatá-lo e
é nossa profunda convicção que nenhum dos perorantes daquela noite tem ideia—pálida
que seja—de como isso se faz.
A tão noticiada reunião configura, para além da fabricação
lúdica de perdigotos, impúdica iniciativa de alguns responsáveis pelo estado a
que isto chegou e verdadeira entropia, no sentido termodinâmico do
termo—energia não convertida em trabalho.
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