Não entrei em ciclo de embirração com João César das
Neves, de quem ainda ontem falei, mas o académico anda a bulir com os meus
neurónios. Hoje é um artigo no "Diário de Notícias" que me causa
prurido meníngeo. Não sou teólogo, nem pouco mais ou menos, mas há na peça
trechos inesperados.
Começa assim:
"Não há
felicidade maior do que saber que Deus, o Deus supremo, sublime, transcendente,
que fez o céu e a terra, se entregou à morte para me salvar."
Isto é, o Deus, que é supremo, sublime,
transcendente, fez um homem que só pôde ser salvo através da morte sangrenta,
violenta e injusta de uma das suas pessoas. Convenhamos que, postas as coisas
assim, é complicado entender. Como é complicado perceber porque o mesmo
Deus—omnipotente e omnisciente—não tenha prevenido a necessidade de salvar de
forma menos dramática o homem que criou; ou até a necessidade de o salvar.
Noutro ponto mais
adiante escreve:
"Todos
estamos condenados à morte e um dia, cedo ou tarde, a sentença será executada.
Aliás, a morte não é só um justo castigo dos nossos males, mas também um alívio
terapêutico dos mesmos males. Que seria viver para sempre em tanta
maldade?"
Com o devido
respeito pela substância em análise, o trecho parece-me mórbido. Filosoficamente,
o pessimismo é inaceitável; humanamente, é cruel; sociologicamente, uma
tragédia.
Aliás, todo o
escrito é a partitura de uma sinfonia doentia e deprimente. Talvez João César
das Neves tenha a convicção de estar a prestar um bom serviço à fé que professa.
Engana-se. O texto é obscurantismo religioso no melhor estilo da Inquisição Medieval—em desacordo com a aparente linha do actual Papa. Difícil fazer pior.
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