Um das nódoas na actuação deste Governo—talvez a maior—é a gestão escandalosamente injusta da austeridade. Esta é aplicada com
ligeireza a quem está à mão e não pode criar problemas, mas poupa os que têm
capacidade de reagir. Mesmo que os poderosos fossem uma minoria insignificante (não
são), a preocupação em atingi-los com medidas equivalentes às impostas aos
fracos, se não mesmo mais pesadas, era indispensável. A imagem de sacrifícios distribuídos
selectivamente é inaceitável do ponto de vista social.
Vem esta conversa a propósito dum excerto que se lê hoje
no jornal "i", da autoria de Saragoça da Matta. Diz assim:
[...] É que se é
certo que as especiais regras de aposentação e as subvenções mensais vitalícias
dos deputados "terminaram", não menos certo é que apenas
"terminaram para o futuro": quem já tinha o direito
"adquirido" não o perdeu, sendo ainda centenas os deputados que se
aposentaram, e aposentarão, com regras especialíssimas, havendo outros tantos
que percebem mensalmente essas incompreensíveis subvenções mensais vitalícias.
Ou seja, continuam a auferir esses estipêndios injustos e vergonhosos, porque
"direitos adquiridos" não se cortam—só se podem cortar aos "outros" os direitos adquiridos às
pensões e vencimentos. [...]
O acabar com os direitos adquiridos dos senhores
deputados não resolve a crise. Todos sabemos isso—o buraco é tão grande que nem
toda a estupidez do Zezito tapa metade. Mas, senhores deputados da maioria e
senhores ministros: mostrem que são capazes de atacar os vossos pares e tratá-los da mesma forma que tratam o português anónimo. O mesmo para as
grandes empresas e os plutocratas, apoiados por legiões de advogados capazes de
levar a contestação até às últimas instâncias judiciais.
Para não ser muito grosseiro, direi que não tendes
balls. O povo entende… Mas também suspeita que, entre falta de
balls e muita incompetência, há uma mal disfarçada preocupação em acautelar o futuro—é que esses intocáveis podem vir a revelar-se bons portos de
abrigo em anos vindouros. Conhecemos exemplos—nada melhor do que manter boas
relações com eles.
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