Corria, na Procuradoria-Geral da República (PGR) em Portugal, um processo contra o Vice-Presidente de Angola. Quarta-feira deixou de correr. Não sei do que se tratava, nem estou interessado em saber, e peço que ninguém me esclareça. Sei apenas que tal processo era uma espinha irritativa nas relações entre os dois países e Angola, com alguma arrogância, já tinha demonstrado que não gostava da situação. Portugal meteu o rabo entre as pernas e arquivou tudo.
Não discuto a justeza da decisão agora tomada pela
PGR—como referi, nem sei o que estava em causa. Seguramente, foi tudo
escrupulosamente averiguado e o Vice-Presidente angolano estava inocente. Mas,
neste País abençoado chamado de Portugal, nunca se faz uma coisa a direito—o
Excelentíssimo Procurador da PGR, de seu nome Paulo Gonçalves,
decidiu filosofar e escreveu o seguinte no despacho de arquivamento:
"A
circunstância objectiva de o requerente ser Vice-Presidente da República de Angola constitui uma
desigualdade, uma diferença, relativamente a outros cidadãos que, como é
manifesto, justifica e fundamenta, por um critério de justiça e bom senso,
atenta a prossecução do interesse nacional português a que a Justiça não deve
ser alheia, um tratamento distinto."
Não lembra ao careca! Naturalmente, a Procuradora-Geral
mandou abrir inquérito disciplinar ao Procurador Paulo Gonçalves a propósito de
tão sensatas considerações vertidas no processo.
A Justiça portuguesa não pára de nos deslumbrar. Desde o
processo recortado à tesoura por ordem do meritíssimo Presidente do Supremo Tribunal
de Justiça Noronha do Nascimento, até ao juiz que mandou um advogado de defesa
queixar-se ao Totta, julgávamos nós já ter visto tudo. Mas não—semana sim,
semana sim, sai à cena um criativo membro do poder judicial para divertir
os portugueses que bem precisam de ser divertidos.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário