sábado, 17 de maio de 2014

BLATTAM-LHE SEM DÓ



O Qatar tem uma população de 280.000 cidadãos e, neste momento, para construir os 12 estádios cujas antevisões alguns parolos fazem circular na Net em apresentações do Power Point, tem cerca de 1,4 milhões de trabalhadores imigrantes do Nepal, Índia, Paquistão, Filipinas e outros países pobres. No ano passado, pelo menos 184 nepaleses morreram, vítimas das desumanas condições de trabalho que lhes são impostas e do calor. A Índia diz que já morreram 500 cidadãos seus, desde 2012. Estima-se em 1.200 o número  total de mortos, mas Sharan Burrow, sectretário-geral da “International Trade Union Confederation”,  considera que, ao ritmo actual, até 2020 morrerão mais de 4.000 para construir aquela saloiada, onde não vai ser possível jogar futebol com o calor de ananases que lá fará.
Todos os abusos praticados até agora só foram possíveis porque o sistema nacional do emprego―kafala―é uma agência de escravatura, autorizada a reter os passaportes dos trabalhadores imigrantes que, de qualquer forma, também não podem abandonar o país (com minúscula) sem visto de saída.
O senhor Blatter, entretanto, já veio dizer que foi um erro. Porquê erro? Erro pressupõe falhar um acto praticado com boa intenção e não foi o caso. Há dias, lia-se nos jornais que um ex-dirigente brasileiro da FIFA se tinha refugiado nos Estados Unidos, depois de noticiado terem sido depositados, por alguém do Qatar, uns milhões de dólares na conta da sua filha de 12 anos, num banco americano.
Ainda é tempo de arrepiar caminho nessa gigantesca borrada do campeonato do mundo no Qatar. E talvez, também, de esclarecer melhor o “papelão” desempenhado pelo senhor Blatter nesta tragédia.
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