O Qatar tem uma população de 280.000 cidadãos e, neste
momento, para construir os 12 estádios cujas antevisões alguns parolos fazem
circular na Net em apresentações do Power Point, tem cerca de 1,4 milhões de
trabalhadores imigrantes do Nepal, Índia, Paquistão, Filipinas e outros países
pobres. No ano passado, pelo menos 184 nepaleses morreram, vítimas das
desumanas condições de trabalho que lhes são impostas e do calor. A Índia diz
que já morreram 500 cidadãos seus, desde 2012. Estima-se em 1.200 o número total de mortos, mas Sharan Burrow, sectretário-geral da “International Trade
Union Confederation”, considera que, ao ritmo actual, até 2020 morrerão
mais de 4.000 para construir aquela saloiada, onde não vai ser possível jogar
futebol com o calor de ananases que lá fará.
Todos os abusos praticados até agora só foram possíveis
porque o sistema nacional do emprego―kafala―é uma agência de escravatura,
autorizada a reter os passaportes dos trabalhadores imigrantes que, de qualquer
forma, também não podem abandonar o país (com minúscula) sem visto de saída.
O senhor Blatter, entretanto, já veio dizer que foi um
erro. Porquê erro? Erro pressupõe falhar um acto praticado com boa intenção e
não foi o caso. Há dias, lia-se nos jornais que um ex-dirigente brasileiro da
FIFA se tinha refugiado nos Estados Unidos, depois de noticiado terem sido
depositados, por alguém do Qatar, uns milhões de dólares na conta da sua filha
de 12 anos, num banco americano.
Ainda é tempo de arrepiar caminho nessa gigantesca
borrada do campeonato do mundo no Qatar. E talvez, também, de esclarecer melhor
o “papelão” desempenhado pelo senhor Blatter nesta tragédia.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário