Edmund Burke escreveu um
dia que a sociedade é uma parceria, não só entre os que estão vivos, mas também
entre eles e os que já morreram e os que hão-de nascer. A primeira é
indiscutível, a segunda assim-assim, a terceira inexistente.
Na verdade, os passados
continuam a marcar a nossa vida e a das nossas comunidades através das leis que
deles herdámos, nomeadamente constituições históricas como a dos Estados
Unidos, da cultura em que crescemos, do meio ambiente que nos deixaram, das
guerras que nos legaram, das descobertas que fizeram, da economia que
organizaram e por aí fora. É claro que tudo, ou quase tudo isso pode ser
reformulado, modificado, negado, refutado, mas há sempre alguma força que
persiste, fica e nos influencia. Por isso falava em assim-assim.
Mas as futuras gerações,
ausentes e desconhecidas, ainda no antes do ser, como podem constituir
parcerias connosco? Em boa verdade, não podem; pelo menos da forma que existe
entre nós, nem da forma que temos com as gerações idas. São a parte passiva da
parceria mas, eventualmente, a mais importante. É nossa responsabilidade
representá-los e a pergunta é: tem isso sido feito?
Há quem esteja convencido
que está no bom caminho a esse respeito. O sentimento geral é que não estamos. No mundo há 7,2 milhares de milhões de
cabeças e cada uma tem a sua sentença; com sentenças diferentes mas parecidas há
milhões de grupos; e grupos totalmente discordantes são ainda milhões.
Naturalmente, há coisas consensuais—por exemplo, que temos necessidade de
oxigénio para respirar, ou que precisamos de água potável para sobreviver. Mas
bastam estes dois exemplos simples para começarem as divergências: de quanto
oxigénio carecemos e onde; ou que volume de água
podemos inutilizar em nome da produção de outros bens de consumo, como o gás de
xisto, por exemplo. Jamais haverá acordo, ainda que mínimo.
A Organização das Nações Unidas é uma instituição que já
mostrou sobejamente não resolver nada, nem servir para coisa alguma. Seria boa
ideia, por exemplo, acabar com tal mastodonte inútil e pô-lo ao serviço das
gerações futuras. Aí estava um bom investimento, desde que acabasse o direito
de veto das grandes potências e se eliminassem liminarmente correntes
filosófico-científicas em moda, sobretudo as que estão impostoramente encapotadas
ao serviço de interesses mal identificados.
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