quinta-feira, 8 de maio de 2014

ORGANIZAÇÃO DOS QUE HÃO-DE VIR

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Edmund Burke escreveu um dia que a sociedade é uma parceria, não só entre os que estão vivos, mas também entre eles e os que já morreram e os que hão-de nascer. A primeira é indiscutível, a segunda assim-assim, a terceira inexistente.
Na verdade, os passados continuam a marcar a nossa vida e a das nossas comunidades através das leis que deles herdámos, nomeadamente constituições históricas como a dos Estados Unidos, da cultura em que crescemos, do meio ambiente que nos deixaram, das guerras que nos legaram, das descobertas que fizeram, da economia que organizaram e por aí fora. É claro que tudo, ou quase tudo isso pode ser reformulado, modificado, negado, refutado, mas há sempre alguma força que persiste, fica e nos influencia. Por isso falava em assim-assim.
Mas as futuras gerações, ausentes e desconhecidas, ainda no antes do ser, como podem constituir parcerias connosco? Em boa verdade, não podem; pelo menos da forma que existe entre nós, nem da forma que temos com as gerações idas. São a parte passiva da parceria mas, eventualmente, a mais importante. É nossa responsabilidade representá-los e a pergunta é: tem isso sido feito?
Há quem esteja convencido que está no bom caminho a esse respeito. O sentimento geral é que não estamos. No mundo há 7,2 milhares de milhões de cabeças e cada uma tem a sua sentença; com sentenças diferentes mas parecidas há milhões de grupos; e grupos totalmente discordantes são ainda milhões. Naturalmente, há coisas consensuais—por exemplo, que temos necessidade de oxigénio para respirar, ou que precisamos de água potável para sobreviver. Mas bastam estes dois exemplos simples para começarem as divergências: de quanto oxigénio  carecemos e onde; ou que volume de água podemos inutilizar em nome da produção de outros bens de consumo, como o gás de xisto, por exemplo. Jamais haverá acordo, ainda que mínimo.
A Organização das Nações Unidas é uma instituição que já mostrou sobejamente não resolver nada, nem servir para coisa alguma. Seria boa ideia, por exemplo, acabar com tal mastodonte inútil e pô-lo ao serviço das gerações futuras. Aí estava um bom investimento, desde que acabasse o direito de veto das grandes potências e se eliminassem liminarmente correntes filosófico-científicas em moda, sobretudo as que estão impostoramente encapotadas ao serviço de interesses mal identificados.
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