quarta-feira, 7 de maio de 2014

RUBRICAR OU NÃO RUBRICAR ?


Falava há dias da escrita à mão e da forma como vive a sua agonia ante mortem. E a assinatura e a rubrica que somos a toda a hora solicitados a fazer, seja no papel do carteiro, no cheque do banco, na carta verde do seguro automóvel, ou no contrato de aluguer de uma insignificância qualquer?  
A mais antiga assinatura que se conhece parece ser de um senhor chamado Gar Ama e figura numa placa de argila suméria do ano 3100 AC. Os romanos usaram a assinatura a partir do AD 439, com o Imperador Valentiniano III; o guerreiro espanhol El Cid deixou uma de 1069; mas  foi só depois de 1677, quando o Parlamento Britânico aprovou uma lei—Statue of Frauds—em 1677, que a assinatura ganhou o estatuto que tem tido desde então até hoje.
Se perguntar o que pensam sobre a assinatura e a rubrica, comparando com textos manuscritos, dir-me-ão: Bom, isso é diferente! Porquê?—pergunto eu.
Ainda há dias contava que o funcionário da distribuição de cápsulas de café me havia pedido para rabiscar com um palito de plástico o ecrã da caixinha que trazia no bolso. Para que serve aquilo? Para nada!
Esta ideia não é só minha—é universal. O Secretário de Estado do Comércio britânico, Vince Cable, é conhecido pela forma como assina os documentos oficiais. Está aí à esquerda a sua  rubrica. O Secretário do Tesouro americano, Jacob J Lew, até há pouco tempo assinava como se vê à direita, em baixo. Há maneira mais expedita de mostrar  desprezo pelo valor da assinatura? Os Estados Unidos são um dos poucos países do mundo desenvolvido onde a assinatura e a rubrica constituem o elemento de autenticação para uso do cartão de crédito e onde há mais fraudes com cartões de crédito que em todo o resto do mundo junto. Mais alguma pergunta?
Quando falava sobre esta matéria, há quatro dias, também eu era um reaccionário sobre ela. Afirmei mesmo que já não tinha cabeça para essa coisa da biometria. Mas fiquei a pensar e a mastigar e, depois de leituras várias, revi a posição e dou o dito por não dito: a biometria é que é. Leitura da íris, impressão digital, chip pessoal—o que quiserem—é o futuro na burocracia. Deixei de ser reaccionário nesta matéria—uma gota a menos num oceano, é verdade, mas é um pequeno "avanço". Assinatura ou rubrica vai ser manifestação afectiva, forma personalizada de identificação para familiares e amigos em dias de aniversário, Natal, nascimento de filhos e outras coisas muito mais importantes que a simples compra do Empire State Building ou da Ponte Vasco da Gama.
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