sexta-feira, 2 de maio de 2014

SOBRE A PALETE

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Está a ver aquela coisa tosca de madeira não tratada, habitualmente suja e empilhada nas traseiras dos supermercados, nos passeios junto a obras, no Cais de Alcântara e na garagem do vizinho? É isso mesmo: são as paletes! Uma coisa horrível, não acha? Acha?!!! Olhe que não, olhe que não...
Pegue num conjunto de objectos, sejam ostras, penicilina, adoçante, ratinhos de laboratório, arame de cobre, rebabá, ponha-os numa palete universal et voilà: uma unidade de carga! Uma das maiores descobertas da humanidade para manipulação de cargas, quase como a roda. Exagero?! Não senhor.
Nos Estados Unidos circulam dois mil milhões delas e no mundo nem se sabe: mas o número deve ser de cair para o lado, mesmo sem contar a que tem na cave com um saco de cimento em cima.
E agora que disse serem horríveis, informo-o que são usadas por arquitectos, artistas plásticos e encenadores para fazer arte. Permitem construir linhas paralelas—com espaços vazios e iguais entre elas—e o aspecto rude da madeira em bruto com cores claras e por aí fora dão muito pano para mangas.
Nem se sabe há quanto tempo existem, mas começaram a ser usadas em grande estilo na II Guerra Mundial para abastecer, com tudo que é preciso aos exércitos, oito milhões de soldados americanos—8.000.000! Hoje, o fabrico de paletes pelo Tio Sam consome 12 a 15% de toda a madeira produzida nos Estados Unidos, o maior consumo, a seguir à construção civil. E há, aproximadamente, quarenta mil trabalhadores  no negócio das paletes: colectores de paletes no lixo, recicladores, fabricantes, consultores económicos, académicos de várias áreas, ladrões de paletes e funcionários comerciais e de associações relacionadas com elas.
A clássica palete "branca", de madeira, tem um inimigo: a palete azul, de plástico, de uma empresa australiana. A CHEP—assim se chama essa empresa—não vende paletes: aluga-as! Podem dar três voltas ao mundo e ficarem reduzidas a esterco, mas continuam a ser da CHEP e a CHEP não abdica da propriedade, mesmo que a encontre na sua garagem e o leitor, que a comprou, não saiba que aquela tralha era deles. Se não lhes devolve gratuitamente a palete, vai parar a tribunal. E olhe que eles trabalham também em Portugal—veja no Google.
A guerra entre os dois tipos—"branca" e azul—é uma história de faca e alguidar. Mete de tudo, desde afirmações de que a palete "branca" tem salmonelas, até deixar roubar as azuis, para evitar a despesa do transporte de longe, e depois pedir a devolução nos tribunais, há de tudo. Gente fixe.
Portanto, quando cruzar com uma pilha de paletes, não faça essa cara de desprezo que costuma fazer. Acho mesmo que devia tirar-lhe o chapéu.
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