Está
a ver aquela coisa
tosca de madeira não tratada, habitualmente suja e empilhada nas traseiras dos
supermercados, nos passeios junto a obras, no Cais de Alcântara e na garagem do vizinho? É isso mesmo: são as paletes! Uma coisa horrível, não acha?
Acha?!!! Olhe que não, olhe que não...
Pegue num conjunto de
objectos, sejam ostras, penicilina, adoçante, ratinhos de laboratório, arame de
cobre, rebabá, ponha-os numa palete universal et voilà: uma unidade de carga!
Uma das maiores descobertas da humanidade para manipulação de cargas, quase
como a roda. Exagero?! Não senhor.
Nos Estados Unidos
circulam dois mil milhões delas e no mundo nem se sabe: mas o número deve ser
de cair para o lado, mesmo sem contar a que tem na cave com um saco de cimento
em cima.
E agora que disse serem
horríveis, informo-o que são usadas por arquitectos, artistas plásticos e
encenadores para fazer arte. Permitem construir linhas paralelas—com espaços
vazios e iguais entre elas—e o aspecto rude da madeira em bruto com cores
claras e por aí fora dão muito pano para mangas.
Nem se sabe há quanto
tempo existem, mas começaram a ser usadas em grande estilo na II Guerra Mundial
para abastecer, com tudo que é preciso aos exércitos, oito milhões de soldados
americanos—8.000.000! Hoje, o fabrico de paletes pelo Tio Sam consome 12 a 15%
de toda a madeira produzida nos Estados Unidos, o maior consumo, a seguir à
construção civil. E há, aproximadamente, quarenta mil trabalhadores no negócio das paletes: colectores de paletes
no lixo, recicladores, fabricantes, consultores económicos, académicos de várias
áreas, ladrões de paletes e funcionários comerciais e de associações relacionadas com elas.
A clássica palete
"branca", de madeira, tem um inimigo: a palete azul, de plástico, de uma
empresa australiana. A CHEP—assim se
chama essa empresa—não vende paletes: aluga-as! Podem dar três voltas ao mundo e
ficarem reduzidas a esterco, mas continuam a ser da CHEP e a CHEP não abdica da
propriedade, mesmo que a encontre na sua garagem e o leitor, que a comprou, não
saiba que aquela tralha era deles. Se não lhes devolve gratuitamente a palete,
vai parar a tribunal. E olhe que eles trabalham também em Portugal—veja no
Google.
A guerra entre os dois
tipos—"branca" e azul—é uma história de faca e alguidar. Mete de
tudo, desde afirmações de que a palete "branca" tem salmonelas, até deixar
roubar as azuis, para evitar a despesa do transporte de longe, e depois pedir a
devolução nos tribunais, há de tudo. Gente fixe.
Portanto, quando cruzar
com uma pilha de paletes, não faça essa cara de desprezo que costuma fazer.
Acho mesmo que devia tirar-lhe o chapéu.
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