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Genoma é o conjunto de genes que existem no núcleo das
células dos seres vivos, incluindo naturalmente as nossas. Os genes contêm a "receita"
para fabricar moléculas, especialmente proteínas, material principal para
construir corpos humanos e outros. Inesperadamente, só 3% do genoma se ocupa desse
trabalho. E o restante 97% o que faz? Nada!!!... Uma boa pergunta e uma
resposta estúpida—a natureza é económica e não esbanja recursos.
O problema é filosófico e
decorre do ponto de vista. Com a mania das grandezas, achamos que, no duo
homem/genoma, nós somos o objectivo, o
genoma o instrumento; mas, provavelmente, é ao contrário. Ou seja, existe o
genoma para nós existirmos, ou existimos nós para o genoma existir? E se fôssemos
meros instrumentos para ele se perpetuar?
Todos os seres vivos
começaram com o ADN do genoma. Genoma é vida. E vida, como Darwin ensinou, é
luta pela sobrevivência no meio. A primeira selecção natural foi sentida pelo
ADN—só o mais apto resistiu. E aqui começa a visão filosófico-científica do
problema. A "construção" progressiva de seres mais diferenciados, de
que o homem será o expoente maior, terá sido condicionada pela necessidade do
genoma se adaptar e resistir ao meio. Toda a evolução obedeceu a isso,
incluindo a viagem do chimpanzé até ao Homo sapiens. Damos mais garantias ao
genoma de sobreviver que o chimpanzé, porque somos mais inteligentes (alguns!).
E quando nos reproduzimos, tal como outros seres, criamos novo genoma, metade
de origem paterna e metade de origem materna. Aumenta a variedade de genomas o
que multiplica as experiências de combinação e apura a espécie.
Os 97% do genoma que
aparentemente não serve o homem, porque não produz moléculas directamente para o seu serviço, serve o restante genoma,
por exemplo, replicando partes do todo. Do ponto de vista da biologia genética
é muito importante para o genoma e pouco importante para nós que somos apenas instrumento
de sobrevivência desse genoma.
Já tinha pensado que atura
o seu chefe, farta-se de trabalhar, faz contas à vida para pagar as burrices do
Passos Coelho, as jericadas dos deputados, as borradas do Ricardo Salgado,
rebabá, tudo para conforto do seu genoma? A maioria do genoma, que considera
lixo, está preocupada com ele e não consigo. Esforce-se para sobreviver porque
ele é o maior beneficiário do seu esforço. Eh, eh, eh...
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Esta prosa é um resumo (livre e mal feito) do excelente artigo publicado no "AEON Magazine", intitulado "Life doesn’t make trash" (A Vida Não Faz Lixo), da autoria de Iatai Yanai, professor associado de Biologia em Israel, e de
Martin Lercher, professor de Bioinformática na Alemanha, ambos autores do livro, a publicar em breve, "The Society of Genes".
A imagem em cima é a que ilustra o artigo referido.
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