A mente humana—pode assim dizer-se—apareceu de repente há 70.000 anos, passando nós de macacos mediocremente inteligentes a Homo sapiens, com consciência. Diz-se que o Homo erectus, besta inteligente capaz de usar ferramentas incipientes e dominar o fogo, deu lugar ao Homo sapiens moderno, com maior cérebro e capacidade superior de utilizar ferramentas, de construir sepulturas, de fabricar colares e pulseiras, de pintar cavernas, ou seja, de actividade artística e ritual—era o parto do pensamento.
Atribuem alguns tal metamorfose ao crescimento do
encéfalo, mas a ideia é porventura excessivamente biológica. O mais provável é
que tenha ocorrido em consequência de outro fenómeno simultâneo, o princípio da
linguagem que, além da expressão vocal e corporal, incluía uma componente interior—a voz interior. Terá sido a "internalização" da
linguagem que despoletou o pensamento,
muito provavelmente.
As expressões linguísticas correspondiam a ideias e a associação
destas era uma forma incipiente de pensamento. Tal teoria não é nova. Já Darwin, no livro Descent of Man,
tinha suspeitado que um longo e complexo
percurso do pensamentos não seria possível sem a ajuda de palavras, vocalizadas
ou silenciosas, tal como os cálculos aritméticos e algébricos exigem números e figuras.
A matéria é complicada mas, resumidamente, o pensamento resultará da capacidade de
associar ideias, o que pode ser observado em crianças muito pequenas, ainda em
fase de desenvolvimento intelectual. Uma experiência demonstrativa é clássica.
Consiste em pedir-lhes que desenhem uma casa. A maioria usa uma técnica
estereotipada traçando um quadrado ou rectângulo com duas janelas e uma porta, um
triângulo para o telhado e uma chaminé. Na realidade, não desenham o que vêem
mais frequentemente—a maioria das casas actuais não é assim. Expressam no papel
(forma de linguagem) a ideia que têm no cérebro. Assim começam e começaram
todas as cabeças—as de Newton, de Darwin e de Einstein incluídas.
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