Friedrich
Nietzsche escreveu que todas as grandes
ideias são concebidas a andar. Nietzsche era um génio e os génios também
estão autorizados a dizer asneiras. Contudo Nietzsche não estava sozinho—Tchaikovsky,
Rousseau, Dickens, Mahler, Thoreau e Kant caminhavam muito, alguns até à
obsessão. Thoureau escrevia uma hora por cada hora caminhada. Tchaikovsky
andava duas horas todos os dias. Rousseau achava que só tinha ideias dignas do
papel se andasse. Dizia mesmo que a visão de uma secretária o deixava vazio de ideias, mesmo nauseado.
Dickens era o mais obsessivo. Convidava amigos para
jantar e antes ia "dar uma volta" com eles, às vezes quase 20 km,
voltando mais vigoroso e com os hóspedes à beira do colapso. Ao longo do
percurso, deixava a imaginação à solta e—dizia—muitas vezes encontrava
personagens de obras anteriores na rua. Os seus passeios eram de dois tipos: com
objectivo, ou puramente ao acaso.
A ciência actual reconhece a relação entre andar e criar.
Estudos recentes da Universidade de Stanford com voluntários confirmam-no e
permitem compreender que o efeito não tem só a ver com a mudança de ambiente,
mas resulta sobretudo da marcha.
Dizem os especialistas que a quantidade de informação que
chega a cada cabeça diariamente não cessa de aumentar, provavelmente cinco
vezes nos últimos três decénios. Não há capacidade de a "trabalhar"
mantendo-nos em contacto com as fontes. Daniel J. Levitin, autor do livro The
Organized Mind: Thinking Straight in the Age of Information Overload, em
recente artigo no "The New York Times" escreve que é preciso sair, ir
às compras ou fazer qualquer coisa que não ocupe a atenção, para resolver
problemas mentais que nos atrapalham. Caminhar "desata nós" na cabeça
e liberta a corrente do pensamento, mesmo em ambientes urbanos onde a informação
continua a atingir-nos, em anúncios comerciais, nas montras, nos autocarros e
por aí fora.
Não há nada mais gratificante que andar, andar, andar; sobretudo,
num local de que se gosta e onde o enquadramento muda dia a dia, hora a hora, minuto
a minuto. Esta é uma afirmação de quem sabe do que fala—eu. Se não costuma andar, ande. Sempre que possa,
pela sua saúde, ande; e vai ver que vale a pena..
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