Há uma crença actual, ironicamente mais frequente nos
países do primeiro mundo, de que vacinar crianças aumenta a probabilidade de
virem a sofrer de autismo. Não sei como surgiu tal ideia, pois não há dados
epidemiológicos, estatísticos, ou clínicos que a apoiem. Nos Estados Unidos, o
Center for Disease Control tem tentado desfazer o mito, apresentando dados e
argumentos mas, paradoxalmente, o efeito é contrário ao que o Centro pretende.
Cada campanha faz crescer o mito. Porquê?
Há estudos psicológicos sobre isso e, em resumo, a
causa parece ter a ver, não directamente com o problema, mas com inserção do mito
numa visão geral que os cidadãos têm da sociedade. Para dar um exemplo simples
e elucidativo, se alguém pensar hoje que o Sol anda à volta da Terra e um
astrónomo lhe explicar que não é assim, provavelmente a pessoa acredita. Mas no
tempo de Galileu era complicado porque tinha implicações religiosas, era
contra tradições culturais, desautorizava gente considerada, etc.
O cidadão actual, infelizmente, habituou-se a ser
enganado por janotas sem escrúpulos, incluindo a indústria farmacêutica, uma
das dez maiores do mundo, parceira do petróleo, do armamento, da pornografia e
da droga. Já ninguém acredita nela, nem no Tamiflu®, nem na utilidade da vacina
contra a gripe das aves e rebabá. Criou-se o que é classicamente chamado
"conversa de taxista", frequentemente não tão descabida como
se diz. Por isso, reina o "pé atrás" com coisas como o aquecimento global,
a depleção do ozono, a guerra contra os alimentos transgénicos e por aí fora. Os
profissionais da ecologia mataram a credibilidade da ecologia porque vivem dela
e se associam a interesses económicos, como a produção de energias alternativas
e outras cangalhadas; os políticos, idem; muitos técnicos de actividades
respeitáveis, idem aspas. Um horror!
Tais exemplos são uma gota no oceano da manipulação da
opinião pública. Depois, quem se admira que o cidadão não acredite no Center
for Disease Control de Atlanta, na vantagem de beber leite pasteurizado, ou na
necessidade dormir com os dois olhos fechados?
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