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Carlos do Carmo canta bem canções agradáveis de ouvir.
Carlos do Carmo tem pose de intelectual que não é, mas gosta de representar o
papel de. Um dos instrumentos de Carlos do Carmo é o desempenho do papel de
personagem comunista que dá um toque de. Não digo, como Almada, que Carlos do Carmo
é um habilidoso, que Carlos do Carmo se veste mal, que Carlos do Carmo usa
ceroulas de malha, mas digo que é um cabotino ridículo como todos os
cabotinos. No fundo, as pessoas gostam de o ouvir cantar, mas ninguém o leva a sério.
No "Diário de Notícias" de hoje, Alberto Gonçalves, com inspirado
sarcasmo, faz um ponto da situação que vale a pena divulgar:
É invejável o talento dos grandes artistas para
interpretar, além de cançonetas, os sentimentos do povo (ou da
"população", palavra que Carlos do Carmo prefere). Como um médium
dedicado aos vivos, ou como Mário Soares, Carlos do Carmo comunica intimamente com
o espírito das massas e descobre que estas não tardam a irromper furiosas de
modo a colocar os poderosos na ordem e a devolver a "dignidade" (sic)
à pátria.
Embora não me lembre da última vez em que o País foi
assim particularmente digno, fico muito satisfeito com a previsão. Só me
angustia uma coisa: e se a população que "não estava habituada a pedir
esmola" não distinguir as elites dos artistas que costumam rondar as
elites à cata de subsídios e patrocínios? O que acontecerá se a indignação das
multidões também se voltar contra a rapaziada dos espectáculos pagos pelas
autarquias e decididos por ajuste directo? Carlos do Carmo garante que "a
população desta terra gosta" das gentes da "cultura", mas não
consigo ficar descansado.
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