[…] Suspeito que o chefe deste Estado-Maior com poderes
delegados pela troika vai rapidamente perceber que é um general sem tropas. Não
porque os portugueses não sejam patriotas; não porque os portugueses não
estejam dispostos a sacrifícios; não porque os portugueses não estejam até
dispostos a ajudar a pagar os desmandos da tropa fandanga que nos governou até
aqui.
Passos não terá exército porque, apesar da sua
generosidade, os portugueses estão exauridos. A batalha vai longa e o
primeiro-ministro em chefe faz questão de nos deixar sem munições: porque vem
aí o maior assalto fiscal alguma vez executado sobre os soldados que Passos
quer agora no combate; porque vem aí mais um corte nas pensões dos soldados que
trabalharam muitos anos e descontaram outros tantos, confiando que o Estado
honraria os seus compromissos e serviços à pátria; porque vem aí, dentro de
dias, mais uma vaga de falências e de despedimentos que engrossará um exército,
sim, mas de desempregados; porque vem aí, dentro de dias, mais uma vaga de notícias
sobre fome, seja nas ruas, seja nas escolas. […]
Rafael Barbosa in “Jornal
de Notícias”
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