Já todos perceberam que uma faca afiada ajuda muito. E
também que a melhor forma desta avançar na vitualha é fazer alguma pressão
sobre a carne com movimentos de avanço e recuo simultaneamente e não fazer
simplesmente pressão. Porquê?—perguntar-se-á. Porque está na cara que é assim,
ou porque a experiência o demonstra, dirão. Explicação insuficiente, respondo
eu. A matéria é científica e complicada. Veja-se o recorte do artigo em cima,
da autoria de investigadores da Universidade de Harvard e a fórmula à direita,
uma das do estudo ali descrito—quase tão complicado como Física Quântica. Ah
ganda peru!...
Embora tenha conseguido meter dente no artigo, vou
resumir porque, caso contrário, o leitor vai já embora. É assim:
A carne do peru, ou de qualquer outro sólido mole,
resiste mais à compressão do que à extensão. Quando se aplica apenas a pressão
da faca, a carne é deformada em vale, torna-se mais compacta e resistente ao corte
e a pressão para avançar tem de ser muito grande. Se se desliza a faca, a
camada superficial da carne em contacto com ela é arrastada, estendida e
rasgada, para o que é necessária muito menos força (a carne resiste menos à
extensão que à pressão). Repetindo a operação, com múltiplos movimentos de
avança e recuo, corta-se mais depressa e melhor uma fatia de peito ou um naco
da coxa. Idealmente, o gume da faca deve ser fino, isto é, deve estar afiado;
mas convém que não seja completamente liso, para arrastar e estender a carne em
contacto com ela. Alguma irregularidade no gume ajuda. Um bom amolador sabe
isso. Voilà.
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