Eram tempos de grande polémica científica. Dum lado, os
defensores do Big-Bang, liderados por Lemaître e Friedmann, inspirados por Einstein;
do outro os teóricos do universo eterno, com Hoyle, já aqui referido, Gold, Bondi
e outros na vanguarda. Em regra as polémicas científicas têm lugar em
workshops universitários, em congressos, nas revistas científicas e por aí
fora, mas desta vez, graças aos divulgadores da ciência nos jornais e rádio, e
ao apaixonante da matéria, o tema entrou na conversa do cidadão comum.
Matéria desta não podia passar ao lado da religião e a
Igreja Católica estava interessada, o mais possível. O Papa Pio XII, que já
tinha proclamado aceitar a Teoria da Evolução Biológica de Darwin por não estar
em conflito com a doutrina católica, no dia 22 de Novembro de 1951, na Academia
Pontifícia das Ciências, falou assim:
“Tudo parece indicar que o universo material teve um
início preciso no tempo, dotado com vasta reserva de energia em virtude da
qual, primeiro rapidamente e depois mais devagar, evoluiu até ao estado
presente. De facto, a ciência actual, com visão para os milhões de séculos passados,
conseguiu o testemunho do Fiat lux dito no momento em que, com a matéria,
brotou do nada um mar de luz e radiação, enquanto partículas dos elementos
químicos se desdobravam para formar milhões de galáxias. Portanto, há um Criador.
Portanto, Deus existe. Embora não seja, nem explícita nem completa, esta é a
resposta que esperávamos da ciência e que a presente geração humana aguardava
dela.”
A mensagem do Papa, com inexactidões científicas
flagrantes à luz do conhecimento actual, manifestava enorme contentamento; não provavelmente
por o Big-Bang provar inequivocamente a existência de Deus―que não prova―mas
antes por não criar objecções à narrativa do Genesis, sendo compatível com ela.
A mensagem incluía referência ao trabalho de
Hubble, da expansão do universo e fez manchete nos jornais do mundo. Elmer Davis,
jornalista, ex-director do Gabinete de Informação do Departamento da Defesa
durante a guerra e amigo de Hubble, escreveu-lhe dizendo jocosamente que o
facto do Papa se servir dele para provar a existência de Deus o qualificava
para ser elevado à condição de santidade.
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