O dinheiro tem três propriedades fundamentais. Funciona como depósito de valores, significando isto que se pode adiar o consumo para datas posteriores, o que é difícil com o sistema de troca directa de bens, muitos perecíveis. É unidade de valor, ou seja, diz-se que um relógio Rolex custa tanto como seis vacas, mas é mais útil e fácil dizer que o relógio, ou as vacas, custam 10.000 euros, podendo comparar-se o seu valor com o de outros objectos. E é o mais prático meio de troca porque, por exemplo, se eu tenho um pente de bananas que não quero e necessito de um par de sapatos, no regime de troca directa tenho de encontrar alguém que tenha os sapatos e precise de bananas; enquanto que, com dinheiro, posso vender as bananas a um e comprar os sapatos a outro.
Isto—comprar e vender—corresponde ao modo como é usado na actualidade; mas nem sempre foi assim. Em regimes tribais e outras economias primitivas, tinha sobretudo papel de "lubrificante" social, ou seja, era usado para negociar casamentos, conseguir
paternidade de crianças,
confortar familiares de falecidos, conseguir perdão de crimes, fazer tratados,
conseguir apoiantes numa qualquer competição. Não significa isto que actualmente
não sirva ainda a essas funções, mas a isso chama-se corrupção,
e outras coisas mal vistas socialmente.
O dinheiro apareceu provavelmente no terceiro milénio
antes de Cristo, na Mesopotâmia. Era constituído por peças de prata e não por moedas
ou notas. Foi no Século VII AC, no pequeno reino da Lídia, na actual Turquia, que
as moedas metálicas estandardizadas, duma liga de ouro e prata, foram
usadas pela primeira vez. Era muito mais fácil levá-las no bolso que
levar cabras, borregos, galinhas, ou vacas; podia negociar-se com quem não se
conhecia e nunca mais se via; as moedas não morriam ou envelheciam como as vacas
e vendia-se agora e comprava-se só na semana seguinte, ou mês, ou ano.
Outros reinos seguiram o exemplo de Lídia e as moedas
tornaram-se correntes no Mediterrâneo, com os estados a cunhar moeda, o que tinha
a tripla vantagem de aumentar as trocas comerciais, facilitar a cobrança de
impostos e estabelecer a autoridade das nações.
Na altura ainda não se tinham lembrado do euro, não havia
o Eurogrupo, nem o Dr. Soares tinha nascido para impulsionar o fabrico de
dinheiro, para escrever artigos no "Diário de Notícias", ou para
organizar uma fundação subsidiada pelo rei da Lídia. Era tudo muito primário,
mas foi assim que começou e foi assim que Vítor Gaspar acabou por se atravessar
no nosso caminho—GANDA AZAR!...
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