sábado, 25 de janeiro de 2014

NA FÁBRICA DO CUSPO

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Sobre o debate da distribuição das bolsas para a investigação, parafraseando, é caso para dizer: eles falam, falam, falam e não dizem nada! O leitor já percebeu qual é o problema? Se sim, felicito-o; se não, felicito-o ainda mais.
Resumindo e concluindo, a crónica de Henrique Monteiro no "Expresso" de hoje, sobre o debate com o Ministro da Educação e Ciência no Parlamento, é esclarecedora do que digo. Intitula-se "Ciência: mas alguém pode debater assim?" e termina como segue:

[...] A confusão naquele local exato para se chegar a uma conclusão foi total. Não se percebe qual a quantidade de dinheiro disponível, ninguém se interroga sobre a qualidade dos novos critérios (salvo por chavões pré-formatados como privatizar, despedir, desempregar, etc.) e de toda a confusão daquilo que parecia ser um debate importante, ficam duas frases. Uma do ministro: "É muito difícil falar quando não nos querem ouvir" e outra de uma deputada do PCP que acusou o ministro de ser responsável pelo despedimento de cinco mil investigadores.
Nada mais se consegue discernir: esses investigadores eram bons? Estavam a produzir trabalhos dignos de interesse? A mudança de critério de que fala o ministro vai resolver os casos de laboratórios, investigações e trabalhos medíocres que ainda existem em Portugal? Como? Estamos, como dizia António Coutinho a podar uma árvore ou a concentrar dinheiro em menos projetos? Quais? As ciências Sociais não valem nada uma vez que não se aplicam à indústria e à Economia, como pareceu dizer o ministro Pires de Lima num remake do inesquecível ataque de Camilo Lourenço ao número de historiadores? Ser bolseiro é uma profissão? Quem perde a bolsa fica desempregado? Estas e outras perguntas, como quase sempre acontece no Parlamento, ficam sem resposta. Retórica e mais retórica. Se a Oposição pensa que é assim que demonstra a malvadeza do Governo, engana-se. Se o Governo imagina que é com medidas mal explicadas que nos convence da bondade das suas medidas, engana-se também.
Se é verdade, como afirma José Manuel Fernandes no 'Público' que, segundo o Eurostat, em 2012 Portugal canalizou quase 2% do Orçamento para a ciência e desenvolvimento, apenas menos do que a Alemanha, a Estónia e a Islândia, queixamo-nos de quê? De quem? É a iniciativa privada que não investe? São os doutorados que não querem sair do conforto da bolsa para a criação de empresas ou para o mercado de trabalho? É o quê?
Para ser honesto não chego a perceber. E duvido que alguém fique esclarecido com debates destes. Como sempre, cavam-se trincheiras, não se tentam soluções.

Eles falam, fala, falam...
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