Suponho já ter referido aqui que no nosso corpo há menos células humanas que não humanas. Estas são o que popularmente se chama micróbios e, embora integrem a nossa constituição, são-nos estranhas e de muitas espécies. Em boa verdade, podemos considerar o homem—e a mulher, naturalmente—como ecossistemas. É verdade: somos um ecossistema.
Durante a permanência no útero materno, o feto é estéril
do ponto de vista microbiano. Mas, pouco depois de nascer, já existem nele
muitas colónias bacterianas, sobretudo mas não só. Quando o nascimento ocorre
por parto normal, por via baixa, predominam os gérmenes vaginais da mãe. Se há
cesariana, dominam os da pele materna. Depois vêm os do leite, da água, os
inalados e inspirados, os da roupa e por aí fora.
Se pudéssemos eliminar todos eles, a diferença no peso
não seria muito grande porque, individualmente,
são de dimensões muito pequenas; mas, ainda assim, perderíamos cerca de
um quinto do peso.
Contudo, tal ideia não seria brilhante. A flora microbiana que
habita em nós é maioritariamente comensal, isto é, não causa dano, sendo útil
em várias circunstâncias. Desde logo, porque compete com micróbios causadores
de doença—ao dificultar a sua instalação no nosso corpo, defende-nos de doenças
infecciosas. Mas, além de participar na digestão, sintetiza substâncias importantes, como a serotonina,
com importância no humor e estabilidade psíquica—cerca de
95% da serotonina que usamos é sintetizada por bactérias dentro de nós.
A informação sobre esta matéria é extensa e
impossível de condensar num post de blog; mas ainda acrescento que a
constituição da flora intestinal, por exemplo, é altamente individualizada,
facto condicionado pelos hábitos alimentares e por outros factores, como o
local onde se vive. Supreendentemente, podemos dizer que o seu perfil é tão
identificativo como a impressão digital.
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