Agradeço a quem tem disponibilidade psicológica para ler
os relatórios do Tribunal de Contas – essa força de bloqueio
– que os autarcas, secretários de Estado e ministros toleram.
De facto, essa força de bloqueio proporciona-nos momentos
hilariantes, porque as tristezas não pagam dívidas...
Vejam só que a ARS do Alentejo decidiu adquirir um
armário persiana, duas mesas de computador e três cadeiras de
costas altas e rodinhas que custaram noventa e sete mil euros... quase
cem mil euros. Estas peças devem ser de ouro.
Em Matosinhos, a empresa municipal de habitação gastou
142 mil euros para reparar uma porta de entrada do edifício.
Alguém sabe de que é feita esta porta? O Tribunal de Contas não
sabe.
A Universidade do Algarve gastou numa viagem aérea até Zagreb, capital da Croácia, durante quatro dias, 33 mil euros. A TAP revelou ao Tribunal de Contas que a viagem de ida e
volta custa 1700 euros. Em que foram gastos os 32 mil euros? O
Tribunal de Contas também não conseguiu perceber. A câmara de
Ílhavo comprou três computadores, uma impressora, dois leitores ópticos e pagou quase 400 mil euros, trezentos e oitenta
mil, mais rigorosamente. O Tribunal de Contas ficou bloqueado.
Completamente embriagados ficaram os relatores do
Tribunal de Contas quando viram que a Câmara de Loures gastou mais
de 652 mil euros em vinho tinto e branco. Certamente não era
para distribuir nas escolas.
Mas vá que não vá, porque Loures é uma câmara rica, agora
o que se passou na câmara de Sabugal, não dá para entender.
O município gastou um milhão e duzentos mil euros para
comprar uma viatura ligeira de mercadorias (uma carrinha
Renault).
Há coisas fantásticas, não há? Ah, pois há. A câmara de
Sines pagou a mesma quantia — um milhão e duzentos mil euros —
pelo aluguer de uma tenda para a inauguração do Museu do
Castelo. O Tribunal de Contas ficou embasbacado ao perceber que o aluguer de uma tenda custa mais que a carrinha de Sabugal
e uma boa casa.
Finalmente, mas em primeiro lugar: a câmara de Beja abriu
um concurso para uma fotocopiadora multifuncional e pagou
seis milhões e meio de euros. Repito, seis milhões e meio de
euros. Este contrato público é um dos mais vergonhosos que se
encontra no site do Tribunal de Contas. E ninguém vai preso por
obscenidades como esta?
Nós, limitamo-nos todos a ser o bobo da corte, sim, esse
mesmo que “… divertia o rei e os áulicos. Declamava poesias, dançava, tocava algum instrumento e animava as festas. De maneira geral era inteligente, atrevido e sagaz. Dizia o que o povo gostaria de dizer ao rei e zombava da corte”. É o que nos sobra
fazer.
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(Com colaboração de António-Pedro Fonseca)
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