Sondagem recente nos Estados Unidos revela que 40% dos
americanos não vêem com bons olhos os ateus, preferindo judeus, católicos,
evangélicos, budistas, hindus e mormons; e só 2% se declaram abertamente ateus.
Diz-se que a ciência é o grande obstáculo à propagação da crença religiosa e, sendo os Estados Unidos uma nação com enorme
desenvolvimento científico, as duas coisas não batem certo. Em excelente artigo
intitulado "Why Aren't More Americans Atheists?",
publicado ontem na revista "PoliticoMagazine", Nick Spencer faz a análise deste problema e conclui
que não é a ciência que condiciona a crença, mas antes a política.
O mundo já acreditou que a
Terra era plana; era o centro do universo; que o mundo foi criado, tal como existe,
em seis dias há menos de 10 mil anos; e que as tempestades e outras calamidades
naturais são enviadas por Deus como mensagens ao homem. Depois de Copérnico,
Bacon, Newton, Darwin e por aí fora, tudo foi pacificamente revisto, sem
impacto significativo na crença dos povos. Afinal, Copérnico era padre, Bacon
devoto, Darwin acreditava que só se compreendia a evolução das espécies com
Deus e Lemaître, do Big-Bang, sacerdote católico.
Segundo Spencer, o
primeiro grande ateu da Europa moderna, com impacto na
crença religiosa, ironicamente, foi um padre católico francês, de seu nome Jean
Meslier, que depois de uma vida irrepreensível em Étrépigny, morreu em 1729 e
deixou um manuscrito, o seu testamento, onde denunciava a crença, Deus e a
religião em tom que deixava o nosso contemporâneo e ateu militante Richard
Dawkins a perder de vista.
Em boa verdade, no
tempo de Meslier e na Europa, a religião, especialmente a Igreja
Católica, associada ao poder temporal, era um colete de forças politica e intelectualmente asfixiante, mais
prejudicial à propagação da fé que milhares de ateus militantes a trabalhar em
full time. Diga-se, em abono da verdade, que tal situação se arrastou na
História por tempo que não me atrevo a contabilizar, mas o seu saneamento estará ainda em curso pela mão do actual Papa.
Na Rússia, o ateísmo foi imposto depois da revolução de
1917 e não restam dúvidas que deve à política a sua implantação. Curiosamente,
esta será uma das razões porque é mal visto na América, onde negação de Deus foi
e é coisa da esquerdalhada comunista. A isto, acresce o facto da religião ter
apoiado desde o início a independência.
No momento actual, ironicamente segundo o autor,
assiste-se a um momento de ascenção do ateísmo, desencadeado pelo regresso de
Deus. Mas religião é como os pregos:
quanto mais se lhes bate, maus fundo penetram.
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