quarta-feira, 6 de agosto de 2014

MALACA O ESTREITO

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O acordo ortográfico—com minúsculas, está bom de ver—tem sido útil. Por exemplo, é justificação bastante para erros lavrados pelos candidatos a professores contratados—e já é muito. Mas tem virtude mais notável qual é a de permitir estilos literários criativos através de ortografia mestiça deliciosa e imaginativa. Hoje lê-se no jornal "Público" a seguinte passagem, transcrita tal como no original:

Sobre o BES, Salgado afirmou, através de um comunicado publicado segunda-feira, que “quando o tempo e o contexto permitirem uma análise objectiva e serena do que precipitou a queda abruta do valor do BES e a consequente intervenção do Estado”, irá dizer o que, do seu ponto de vista, “provocou esta crise e o seu desfecho”.

Fica-se a saber que a queda do valor do BES foi "abruta". Óh égua! Podia ter sido "à bruta", "a bruta", "abrupta",  "a rude", "a tosca" e outras coisas mais, mas não—foi abruta. Aqui está o encanto da mestiçagem ortográfica criativa, porque o vocábulo usado tem tudo isso. Nem Vieira escrevia assim! Em boa verdade, nesse tempo, o Professor Malaca Casteleiro ainda não era nado e Vieira lutava com limitações agora ultrapassadas.
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