A mais obscura matéria da Filosofia é a do ser;
assim dizia William James. Como pode alguma coisa vir do nada? A questão
enfurecia-o porque pede uma explicação ao mesmo tempo que a nega. Do nada para
o ser não há ponte alguma, acrescentava.
Na ciência, as explicações são do tipo causa e efeito. Mas
se o nada é realmente nada, não pode causar coisa nenhuma. Não é que não se
possa encontrar explicação correcta; é que a própria explicação não existe em
face do nada, o que dói.
Somos uma espécie de narrativas. A nosso compreensão básica
assenta em histórias; e saber como alguma coisa veio do nada é a última
história, a narrativa primeira, a mais fundamental. É uma história que mina a
noção de história, narrativa tecida de auto-destruição e paradoxo.
Como pode deixar de ser? Destaca o nada—palavra que é um
paradoxo em si mesma. Um substantivo, uma coisa e, contudo, é nada. No minuto
em que falamos dela, ou a imaginamos,
esvaziámo-la com o significado. Por isso, temos de pensar se o
problema é dela ou é nosso. É cósmico, ou linguístico? Existencial, ou
psicológico? Um paradoxo da Física, ou do pensamento?
De qualquer modo, é preciso lembrar que a solução para um
paradoxo reside sempre na pergunta e não na resposta. Deve haver qualquer
falha, uma imperfeição ou identidade errada. Numa questão tão simples como a de
'alguma coisa veio do nada', não há muito lugar para esconderijos. Talvez por
isso, voltamos sempre à velha ideia com nova roupagem, seguindo o trajecto da
ciência como fuga, ou variações sobre um tema. Com cada passo, procuramos nova
pedra para saltar numa ponte ilusória.
Assim começa um artigo de Amanda Gefter, intitulado
" The Bridge From Nowhere", publicado no site "nautilus.us" e
cuja leitura recomendo, dado que não é possível traduzi-lo na íntegra neste
espaço—tem mais de 2.700 palavras. Muito bom.
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