quinta-feira, 7 de agosto de 2014

O NADA E O SER

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A mais obscura matéria da Filosofia é a do ser; assim dizia William James. Como pode alguma coisa vir do nada? A questão enfurecia-o porque pede uma explicação ao mesmo tempo que a nega. Do nada para o ser não há ponte alguma, acrescentava.
Na ciência, as explicações são do tipo causa e efeito. Mas se o nada é realmente nada, não pode causar coisa nenhuma. Não é que não se possa encontrar explicação correcta; é que a própria explicação não existe em face do nada, o que dói.
Somos uma espécie de narrativas. A nosso compreensão básica assenta em histórias; e saber como alguma coisa veio do nada é a última história, a narrativa primeira, a mais fundamental. É uma história que mina a noção de história, narrativa tecida de auto-destruição e paradoxo.
Como pode deixar de ser? Destaca o nada—palavra que é um paradoxo em si mesma. Um substantivo, uma coisa e, contudo, é nada. No minuto em que falamos dela, ou a imaginamos,  esvaziámo-la com o significado. Por isso, temos de pensar se o problema é dela ou é nosso. É cósmico, ou linguístico? Existencial, ou psicológico? Um paradoxo da Física, ou do pensamento?
De qualquer modo, é preciso lembrar que a solução para um paradoxo reside sempre na pergunta e não na resposta. Deve haver qualquer falha, uma imperfeição ou identidade errada. Numa questão tão simples como a de 'alguma coisa veio do nada', não há muito lugar para esconderijos. Talvez por isso, voltamos sempre à velha ideia com nova roupagem, seguindo o trajecto da ciência como fuga, ou variações sobre um tema. Com cada passo, procuramos nova pedra para saltar numa ponte ilusória.


Assim começa um artigo de Amanda Gefter, intitulado " The Bridge From Nowhere", publicado no site "nautilus.us" e cuja leitura recomendo, dado que não é possível traduzi-lo na íntegra neste espaço—tem mais de 2.700 palavras. Muito bom.
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