Manuel Maria Carrilho, sobre quem digo, em forma de declaração de conflito
de interesses, não fazer o meu género intelectual, escreve hoje no
"Diário de Notícias" coisas boas, a respeito do comentário televisivo
em Portugal. Depois de referir, en passant, o "entretenimento comentante" do professor Martelo e "a
parlapatice rapsódica" de Miguel
Sousa Tavares que, segundo diz, tentam agora "escapar ao tsunami BES/GES,
que deixa a credibilidade de ambos de rastos", fala do vidente (a expressão
é minha) Marques Mendes.
Marques Mendes aparece semanalmente na televisão em bicos
de pés, a anunciar—qual pitonisa—o que o Governo, o Banco de Portugal, ou outra
instituição importante e oficial vai fazer no dia seguinte, incluindo coisas
que era de admitir serem apenas do conhecimento dessas instituições. Só há duas
explicações: ou Mendes é informado à socapa pelas instituições, ou tem lá informadores/toupeiras.
A segunda hipótese é pouco credível porque, a ser
verdadeira, já teria desencadeado medidas para lhe pôr termo e o "comentador"
seria chamado à pedra. Fica a ideia de que Mendes é mensageiro oficial para
efeitos de preparação do terreno e palpação do pulso do povão—triste papel.
Além de triste, é inquietante pois, como diz Carrilho,
significa a prática de fugas instrumentais de informação com fins tácticos. E
quando há fugas tácticas, pode haver também privilegiadas para favorecimento de
amigos, compadres, sócios, familiares e correligionários.
Mendes é a face visível de uma prática que pode ser uma
fonte potencial de tráfico de influências e, consequentemente, de corrupção
(não estou a dizer que é). Mas está tudo
tranquilo, Governo e povão incluídos.
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