quarta-feira, 13 de agosto de 2014

SAY CHEESE

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Darwin escreveu que todos os povos exprimem fisicamente os seus sentimentos de forma semelhante, seja o habitante de Washington, da Patagónia, de Londres, da Papua, de Paris, do Alasca, Berlim ou Roma. Paul Ekman, psicólogo americano, tem a mesma ideia  e admite que tal característica transversal resulta da evolução biológica que seleccionou gestos e atitudes adequados à sobrevivência individual, e da espécie consequentemente. É curioso que, nesse aspecto, há comportamentos humanos observáveis em animais, em particular nos que nos são mais próximos, como os primatas.
Uma dessas formas de expressão é o sorriso e o riso. Ao contrário do que possa parecer, serão actos que significam subserviência, reconhecimento de inferioridade e de fraqueza, constituindo mecanismo de defesa perante outros indivíduos; formas de dissuadir agressões previsíveis, em suma. É, mais ou menos, comunicar por linguagem gestual a ideia de "não me batas que sou fraquinho". Pelo menos, assim pensa Michael Graziano, neurocientista, professor da Universidade de Princeton e autor do livro "Counsciousness and the Social Brain" e do artigo publicado hoje no "AEON Magazine" com o título "The First Smile". Graziano parte de observações feitas por ele e outros autores em primatas, onde encontram comportamentos visivelmente sobreponíveis ao humano.
O sorriso, por exemplo, é do ponto de vista evolutivo um mecanismo de defesa, ele próprio. A elevação do lábio superior e das comissuras labiais—podendo descobrir ou não os dentes—acompanha-se da subida das bochechas e das pálpebras inferiores, ao mesmo tempo que a fenda palpebral diminui—adicionalmente pela descida das pálpebras superiores—semicerrando  os olhos e protegendo-os.  É o equivalente ao comportamento de, ao ser agredido por alguém mais forte, flectir o tronco para proteger o abdómen—que não tem protecção óssea—e baixar a cabeça para proteger o pescoço. Nos primatas, a atitude defensiva exprime submissão e dissuade frequentemente a agressão do opositor. É possível que o mesmo aconteça inconscientemente no homem.
O mesmo se pode dizer para o riso e para as lágrimas, coisas aliás, consideradas próximas do sorriso, qualitativamente.
O sorriso será manifestação de aceitação de outra pessoa, de estima, de simpatia, de submissão. Será alargar o perímetro da influência dela no relacionamento mútuo. O riso, por sua vez,aplauso do comportamento ou discurso de alguém. A lágrima mais ainda.
Discutível? Talvez. Mas vale a pena pensar. E ler o artigo de Graziano aqui.
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