Darwin
escreveu que todos os povos exprimem fisicamente
os seus
sentimentos de forma semelhante, seja o habitante de Washington, da Patagónia, de Londres, da Papua, de Paris, do Alasca, Berlim ou Roma. Paul Ekman, psicólogo americano,
tem a mesma ideia e admite que tal
característica transversal resulta da evolução biológica que seleccionou gestos
e atitudes adequados à sobrevivência individual, e da espécie consequentemente.
É curioso que, nesse aspecto, há comportamentos humanos observáveis em animais,
em particular nos que nos são mais próximos, como os primatas.
Uma dessas formas de
expressão é o sorriso e o riso. Ao contrário do que possa parecer, serão actos que significam subserviência, reconhecimento de inferioridade e de
fraqueza, constituindo mecanismo de defesa perante outros indivíduos; formas de dissuadir agressões previsíveis, em suma. É, mais ou menos, comunicar por
linguagem gestual a ideia de "não me batas que sou fraquinho". Pelo
menos, assim pensa Michael Graziano, neurocientista, professor da Universidade
de Princeton e autor do livro "Counsciousness and the Social Brain" e
do artigo publicado hoje no "AEON Magazine" com o título "The
First Smile". Graziano parte de observações
feitas por ele e outros autores em primatas, onde encontram comportamentos
visivelmente sobreponíveis ao humano.
O sorriso, por exemplo, é do ponto de
vista evolutivo um mecanismo de defesa, ele próprio. A elevação do lábio
superior e das comissuras labiais—podendo descobrir ou não os dentes—acompanha-se da
subida das bochechas e das pálpebras inferiores, ao mesmo tempo que a fenda
palpebral diminui—adicionalmente pela descida das pálpebras superiores—semicerrando
os olhos e protegendo-os. É o equivalente ao comportamento de, ao ser
agredido por alguém mais forte, flectir o tronco para proteger o abdómen—que
não tem protecção óssea—e baixar a cabeça para proteger o pescoço. Nos
primatas, a atitude defensiva exprime submissão e dissuade frequentemente a
agressão do opositor. É possível que o mesmo aconteça inconscientemente no
homem.
O mesmo se pode dizer para
o riso e para as lágrimas, coisas aliás, consideradas próximas do sorriso,
qualitativamente.
O sorriso será manifestação
de aceitação de outra pessoa, de estima, de simpatia, de submissão. Será
alargar o perímetro da influência dela no relacionamento mútuo. O riso, por sua vez,aplauso do comportamento ou discurso de alguém.
A lágrima mais ainda.
Discutível? Talvez. Mas
vale a pena pensar. E ler o artigo de Graziano aqui.
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