A respeito do V centenário do nascimento de Frei Bartolomeu dos Mártires, Anselmo Borges escreve hoje sobre ele no "Diário de Notícias" e, a páginas tantas, assim:
[...] Mas não
hesitou em verberar a vaidade, o fausto e ostentação dos eclesiásticos.
Denunciou de modo veemente a Cúria Romana que, escreve Aires Nascimento,
"se burocratizara e se valia de expedientes para assegurar dinheiro que se
tornara necessário para manter serviços inúteis". Perante clivagens e
críticas, não esmoreceu em zelo e apelava para o direito divino que opunha às
tradições romanas: "Invocando autoridades consagradas, aos bispos que não
cumpriam as suas obrigações pastorais, nomeadamente o dever de residência e de
visitação, não hesitava em compará-los a meretrizes, por apenas se interessarem
com usufruir de benefícios materiais."
Sobre os cardeais
escreveu: "Não se elejam senão aqueles que se destaquem pela excelência de
vida e doutrina. Entre o seu número, escolham-se alguns maximamente idóneos que
com o Papa governem a Igreja." Quando lhe mostravam "os faustosos
palácios e jardins que permitiriam convívio regalado, respondia que melhor fora
preocupar-se com os pobres e que, mais que resguardar-se em edifícios
sumptuosos, importava visitar e cuidar dos desamparados e acolhê-los nas
dependências vazias".[...]
E, noutro passo:
[...] Se vivesse hoje, aplaudiria, de coração, Francisco,
pois foi com um Papa como ele que terá sonhado.[...]
Anselmo Borges fica na mira das "beatas"—onde,
aliás, já deve estrar há tempos. A propósito de um texto que, em 2010, escrevi neste blog sobre o exorcista espanhol
José António Fortea, recebi dois comentários que estão publicados. Um é de 2012
e reza assim: "Folclore? Que o bom
e misericordioso Deus salve a quem escreveu isto"—a mim, naturalmente. O
outro, de 2013, diz: "Folclore? Este o diabo já tem nas mãos...".
A beatice dos autores, provavelmente autoras, dos
comentários anónimos é flagrante. Vivem
no mundo do Deus Juiz, castigador inclemente. Respondi-lhes:
"Agradeço a
preocupação das almas, que comentam anonimamente, com o meu destino final. Não
tenho nada contra a religião, antes pelo contrário. Mas recordo que a Igreja
Católica já promoveu Cruzadas, que hoje não aprovaria, e já condenou gente viva
à fogueira, impensável nos dias actuais. Os tempos mudam, os erros acabam. Já
não há erros? Claro que há! E não se pode apontá-los? Claro que pode—assim
acabaram as cruzadas e as fogueiras da Inquisição. E quem se insurgiu contra
elas não está no Inferno por isso. Quem defendia as Cruzadas e as fogueiras
eram as "beatas" e os "beatos" que não prestaram grande
serviço a Deus e à religião".
Ainda estou à espera de resposta dos
zeladores, ou zeladoras, da fé que devem andar muito ocupados a ameaçar outros pecadores
com o Inferno.
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