terça-feira, 4 de dezembro de 2012

SOMOS TODOS DA MESMA MASSA

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T.H. Huxley, biólogo, disse um dia: O conhecido é finito, o desconhecido infinito. Vivemos numa ilha no meio dum ilimitado oceano de inexplicabilidade. O papel de cada geração é reclamar um pouco mais de terra.
Huxley tinha razão, mas não é fácil a tarefa. Ironicamente, um dos obstáculos ao avanço do conhecimento mora no próprio meio encarregado de o promover. É conhecido internacionalmente por establishment e constituído pelos autores famosos dos anteriores e mais recentes progressos. A ideia nova, além de desvalorizar a velha, tira protagonismo ao autor desta e obriga-o a rever a atitude mental relativamente a toda a matéria.
Einstein foi um génio científico e homem com as fraquezas próprias da condição humana; também ele força de bloqueio da ciência. Perante o facto inexplicável de o universo não colapsar, estando os astros sujeitos à força gravitacional permanente, arranjou uma explicação tosca que nem ele aceitava perfeitamente mas defendia. Um dia, confrontado por Friedman com a teoria da expansão permanente do universo, o que resolvia a charada, correu com ele. Mais tarde, o físico e padre belga Lemaître expôs-lhe a teoria do Big-Bang e a expansão universal permanente desde então e Einstein, simpaticamente, atirou-lhe: "Os cálculos matemáticos  estão correctos, mas a sua Física é abominável"—arrumou-o. E porque arrumou Einstein Lemaître? Porque isto passava-se em 1927 e Einstein era a referência internacional da Física desde 1919. Ninguém faria vingar uma teoria diferente da de Einstein sem a aprovação deste  e este não queria que vingasse. Voilà—o establishment como força de bloqueio.
Claro que o tempo viria a dar razão a Friedman e a Lemaître e Einstein engoliu. Um dia reconheceu e escreveu: "Para punir o meu desprezo habitual pela autoridade, o destino fez de mim próprio uma autoridade". Somos todos feitos do mesmo carbono, hidrogénio e oxigénio, digo eu. Einstein também era.
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(A fotografia à direita é de Lemaître)
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