T.H. Huxley, biólogo,
disse um dia: O conhecido é finito, o desconhecido infinito. Vivemos numa ilha no
meio dum ilimitado oceano de inexplicabilidade. O papel de cada geração é
reclamar um pouco mais de terra.
Huxley tinha razão,
mas não é fácil a tarefa. Ironicamente, um dos obstáculos ao avanço do
conhecimento mora no próprio meio encarregado de o promover. É conhecido
internacionalmente por establishment e constituído pelos autores famosos
dos anteriores e mais recentes progressos. A ideia nova, além de desvalorizar a
velha, tira protagonismo ao autor desta e obriga-o a rever a atitude mental
relativamente a toda a matéria.
Einstein foi um
génio científico e homem com as fraquezas próprias da condição humana; também
ele força de bloqueio da ciência. Perante o facto inexplicável de o universo
não colapsar, estando os astros sujeitos à força gravitacional permanente,
arranjou uma explicação tosca que nem ele aceitava perfeitamente mas defendia.
Um dia, confrontado por Friedman com a teoria da expansão permanente do
universo, o que resolvia a charada, correu com ele. Mais tarde, o físico e
padre belga Lemaître expôs-lhe a teoria do Big-Bang e a expansão universal permanente
desde então e Einstein, simpaticamente, atirou-lhe: "Os cálculos
matemáticos estão correctos, mas a sua
Física é abominável"—arrumou-o. E porque arrumou Einstein Lemaître? Porque
isto passava-se em 1927 e Einstein era a referência internacional da Física
desde 1919. Ninguém faria vingar uma teoria diferente da de Einstein sem a
aprovação deste e este não queria que
vingasse. Voilà—o establishment como força de bloqueio.
Claro que o tempo
viria a dar razão a Friedman e a Lemaître e Einstein engoliu. Um dia reconheceu
e escreveu: "Para punir o meu desprezo habitual pela autoridade, o destino
fez de mim próprio uma autoridade". Somos todos feitos do mesmo carbono,
hidrogénio e oxigénio, digo eu. Einstein também era.
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(A fotografia à direita é de Lemaître)
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