quarta-feira, 6 de março de 2013

AS FÍFIAS DE GASPAR

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Quando, há 2.500 anos, Demócrito disse que a matéria era constituída por átomos, não imaginava a trapalhada que estava a arranjar. É que Demócrito não sabia do "Large Hadron Collider" de Genebra e fazia as coisas mais simples. Para o físico embrionário que era, átomos seriam uma coisa assim a jeito de tijolos que se põem uns em cima dos outros para fazer paredes—tudo compacto. Mas não. Não é!
A acuidade dos nossos sentidos tem um limite muito alto para nos apercebermos do nível da dimensão atómica e, por isso, quando olhamos ou palpamos um vidro por exemplo, parece-nos matéria compacta. Na realidade, há lá mais espaço vazio que preenchido, imagine-se! O átomo de Demócrito afinal tem um núcleo com protões e neutrões, à volta do qual gravitam pares de electrões em órbitas não planas, mas esféricas, ou seja, viajam como se estivessem na superfície duma esfera e, quando há mais que dois electrões no átomo, cada par tem a sua esfera com raio diferente. Isto deixa imenso espaço—relativamente, já se vê—entre as várias partículas. Por isso, há mais espaço vazio que preenchido.
E podem os físicos prever onde está um electrão num dado momento, e onde vai estar daqui a certo tempo? Podiam, se a mecânica quântica obedecesse à física de Newton. Mas não obedece: e passo a explicar a  quem não sabe isto muito melhor que eu. De acordo com a Física newtoniana, se eu pego numa pedra com a massa X e a arremesso com a força Y no sentido Z, sei onde ela está ao fim de meio segundo, ou um segundo, ou dois segundos, ou três, ou quatro. Mas se sei onde está um electrão agora, não consigo saber onde ele está mais tarde.
Então a Física clássica de Newton não se aplica à Física atómica? Não. Está errada? Um bocadinho! É verdade; um bocadinho! Na realidade, quando dizemos que a pedra está em tal sítio ao fim de um segundo, erramos porque ela não está lá exactamente. Mas, na escala da observação, em que a unidade de comprimento é o metro—aproximadamente metade da altura de um homem adulto e o dobro de uma criança—esse erro é desprezível (tal como os erros das previsões de Vítor Gaspar! Eh, eh, eh...). Quando se usa a mesma Física no cálculo dos movimentos dos astros—por exemplo, a posição da Terra em relação ao Sol—também asneamos; contudo, podemos dizer uns aos outros: caga nisso, porque o erro é desprezível (tal como os erros das previsões de Vítor Gaspar! Eh, eh, eh...).
Mas, se estamos a tratar de átomos, em que o electrão se mede em unidades de 10^-12 metros—0,00000000000001 m—o mais pequeno deslize é a morte do artista. Não há margem para os erros de Newton, se assim podemos falar. Por isso, em mecânica quântica não há certezas; apenas probabilidades. É o Princípio da Incerteza, desenvolvido em 1926 por  Heisenberg. E é assim que os físicos atómicos têm de se desenrascar. É a vida—os portugueses, físicos atómicos ou não, também andam a ver se se desenrascam com os gamanços do Gaspar, da ordem dos €10^500.
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