Quando, há 2.500 anos, Demócrito disse que a matéria era
constituída por átomos, não imaginava a trapalhada que estava a arranjar. É
que Demócrito não sabia do "Large Hadron Collider" de Genebra e fazia as coisas mais simples. Para o físico embrionário que era, átomos
seriam uma coisa assim a jeito de tijolos que se põem uns em cima dos outros
para fazer paredes—tudo compacto. Mas não. Não é!
A acuidade dos nossos sentidos tem um limite muito alto
para nos apercebermos do nível da dimensão atómica e, por isso, quando olhamos ou
palpamos um vidro por exemplo, parece-nos matéria compacta. Na realidade, há lá
mais espaço vazio que preenchido, imagine-se! O átomo de Demócrito afinal tem um
núcleo com protões e neutrões, à volta do qual gravitam pares de electrões em
órbitas não planas, mas esféricas, ou seja, viajam como se estivessem na
superfície duma esfera e, quando há mais que dois electrões no átomo, cada par
tem a sua esfera com raio diferente. Isto deixa imenso espaço—relativamente, já
se vê—entre as várias partículas. Por isso, há mais espaço vazio que
preenchido.
E podem os físicos prever onde está um electrão num dado
momento, e onde vai estar daqui a certo tempo? Podiam, se a mecânica quântica
obedecesse à física de Newton. Mas não obedece: e passo a explicar a quem não sabe isto muito melhor que eu. De
acordo com a Física newtoniana, se eu pego numa pedra com a massa X e a arremesso com a força Y no sentido Z, sei onde ela está ao fim de meio segundo, ou um segundo, ou
dois segundos, ou três, ou quatro. Mas se sei onde está um electrão agora, não
consigo saber onde ele está mais tarde.
Então a Física clássica de Newton não se aplica à Física
atómica? Não. Está errada? Um bocadinho! É verdade; um bocadinho! Na realidade,
quando dizemos que a pedra está em tal sítio ao fim de um segundo, erramos
porque ela não está lá exactamente. Mas, na escala da observação, em que a
unidade de comprimento é o metro—aproximadamente metade da altura de um homem
adulto e o dobro de uma criança—esse erro é desprezível (tal como os erros das
previsões de Vítor Gaspar! Eh, eh, eh...). Quando se usa a mesma Física no cálculo
dos movimentos dos astros—por exemplo, a posição da Terra em relação ao Sol—também
asneamos; contudo, podemos dizer uns aos outros: caga nisso, porque o erro é desprezível
(tal como os erros das previsões de Vítor Gaspar! Eh, eh, eh...).
Mas, se estamos a tratar de átomos, em que o electrão se mede
em unidades de 10^-12 metros—0,00000000000001 m—o mais pequeno deslize é a
morte do artista. Não há margem para os erros de Newton, se assim podemos
falar. Por isso, em mecânica quântica não há certezas; apenas probabilidades. É
o Princípio da Incerteza, desenvolvido em 1926 por Heisenberg. E é assim que os físicos atómicos
têm de se desenrascar. É a vida—os portugueses, físicos atómicos ou não, também
andam a ver se se desenrascam com os gamanços do Gaspar, da ordem dos €10^500.
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