quarta-feira, 24 de abril de 2013

SER OU NÃO SER

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Perceber o universo, quaisquer que fossem os limites observados, foi sempre aspiração do homem. As primeiras tentativas envolviam a ideia de que os fenómenos naturais eram controlados por espíritos quase humanos, com sentimentos e emoções volúveis, actuando de forma imprevisível e cruel que era necessário aplacar para as colheitas serem férteis, ou para prevenir tormentas que vitimavam populações inteiras.
Mas, gradualmente, o homem percebeu que o Sol nascia sempre a Oriente e se punha a Ocidente, a Lua mantinha os mesmos ciclos ano após ano e as estações sucediam-se com imutável regularidade, com preces e sacrifícios ou sem preces e sacrifícios. Primeiro, o homem viu que havia leis na Astronomia, e depois em muitos outros fenómenos naturais. Ou seja, os acontecimentos eram regidos por regras, fosse qual fosse o seu autor. Assim pensou  Laplace no princípio do Século XIX, o que o levou a postular o determinismo científico, significando tal que as coisas acontecem em resultado de leis pré-estabelecidas. Na realidade, o conceito de Laplace teria que ser revisto mais tarde porque na Física Quântica, ao contrário da clássica, de Newton, o determinismo não é assim tão claro e linear.
As religião, ou as religiões, sempre se mostraram avessas a coisas como o determinismo científico, por porem em causa a importância da intervenção divina. Mas a verdade é que não é incompatível com a criação inteligente que terá posto em marcha um mecanismo que se move pelo próprio pé, sem necessidade de assistência contínua.
O que acabo de escrever é uma síntese muito "sintética" e próxima do que diz Stephen Hawking no livro " A Briefer History of Time". Hawking seria porventura o mais ilustre físico quântico, astrofísico e cosmologista actual do Reino Unido, se Peter Higgs não estivesse ainda vivo. Tem tido opiniões filosóficas diferentes ao longo carreira. Aliás, tem sobre os filósofos clássicos opinião própria.  Diz a páginas tantas que no Século XVIII os filósofos consideravam ser seu foro o conjunto do conhecimento, incluindo discutir se o universo teve um princípio, como evoluiu, ou qual o seu significado. Com o avanço da ciência, tais matérias tornaram-se demasiado técnicas e matemáticas para eles—perderam o domínio do objecto. E cita Wittgenstein, um dos mais famosos filósofos do Século XX, quando dizia que o único papel deixado aos filósofos actuais é o da análise da linguagem. A tradição filosófica personalizada por Aristóteles ou Kant finou-se.
Vem esta seca a propósito duma notícia hoje avançada no "Diário de Notícias", de que Hawking fez uma conferência no Instituto de Tecnologia da Califórnia,  onde terá dito que o universo não precisa de Deus para existir. É novo passo do físico no seu pensamento filosófico: verifico que Hawking, de quem poderíamos dizer que era—no máximo—agnóstico, virou ateu, posição respeitável e seguramente assumida com convicção em pessoa como ele. Contudo, das notícias nos media nacionais e estrangeiros, não fica claro como Hawking fundamenta o seu ponto de vista. Às tantas terá dito que o Big Bang não precisou de Deus. É a resposta à questão mais vezes posta pelo homem. Carece de justificação, especialmente vinda de Hawking. No livro citado atrás, escreve assim: "Se descobrirmos um teoria completa (sobre o universo), deve ser compreensível não só pelos cientistas. Então, todos—filósofos, cientistas e público em geral—poderão tomar parte na discussão do problema do porquê e como existimos, nós e o universo. A resposta será o último triunfo do homem porque conheceremos a mente de Deus".
Por mim, ficaria encantado se pudesse ter a convicção que Hawking tem agora, assente em razão irrefutável. Hawking parece ter, mas não explica; ou os media não explicam, embora fosse sua obrigação fazê-lo. Ficamos à espera de nova intervenção do físico.
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