Ouve-se e lê-se
que a História não se repete. Karl Marx dizia que se repete: a primeira vez sob a forma de tragédia, a
segunda sob a forma de farsa. Mark Twain, que não se repete, mas rima. E Clarence
Darrow, que se repete, sendo precisamente
essa uma das coisas erradas que a História tem. Há para todos os gostos,
situações e ocasiões, como acontece com quase tudo que é frase grandiloquente, provérbio
ou ditado.
Em boa verdade, esse género de filosofia―com minúscula―é
quase sempre de almanaque. Digo quase sempre porque alguma faz excepção―por
exemplo, quando Churchill dizia que a História é a versão escrita pelos vencedores:
todos conhecemos o que se diz do holocausto, mas só adivinhamos o que diriam os
alemães sobre as bombas atómicas americanas no Japão se Hitler tivesse ganho a
guerra.
Portanto, citando Einstein, tudo é relativo. Em Portugal,
há 39 anos que a História se repete: invariavelmente, tudo está bem, mas os anos
passam e por três vezes surgiu a emergência absoluta de colocar as contas
públicas em ordem, maneira simpática de dizer que o País faliu e foi colocado
sob a tutela de três comissões estrangeiras de administração de falências.
Naturalmente, também isto é relativo em relação ao fenómeno
da repetição da História. Se falamos das duas falências durante os governos de
Mário Soares, estamos a tratar de matéria clara porque aí a culpa foi do Dr.
Soares e seus correligionários. Se falamos da falência actual, há duas versões:
a primeira diz que foi o Zezito que afundou o navio, na melhor tradição
socialista de gerir; a segunda que foi o Gaspar que lhe deu o tiro de misericórdia
na tentativa canhestra de o manter a flutuar.
Resumindo e concluindo, a História não se repete, nem
deixa de se repetir: está inocente. O que se repete são as jericadas dos
políticos.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário