“All
the world’s a stage, and all the men and women merely players.” — Shakespeare
Shakespeare
viveu a maior parte da vida no Século XVI. O conhecimento—da Biologia, da
Física, da Cosmologia, da Neurociência—fundamental para fazer raciocínios
filosóficos, era rudimentar. Contudo, o dramaturgo tinha a intuição do que
viria séculos depois a ser defendido cientificamente, quando escrevia que o mundo
é um palco e homens e mulheres meros actores. Dizia Shakespeare que
o indivíduo representa um papel no teatro que é o mundo, em peça de que não é autor.
Quatrocentos
anos mais tarde, com conhecimento muito avançado (relativamente!) da estrutura
atómica, da evolução do universo, da natureza da vida, da função cerebral, há
boas razões para acreditar que somos meras marionetas físicas, ou bioquímicas, ou
ambas as coisas, cujo comportamento é ditado de forma exclusiva por fenómenos
biológicos regulados por leis que não controlamos. Isto é, não há livre
arbítrio.
Assim
pensam Sam Harris, Jerry Coyne, Jonathan Bargh, Daniel Wegner, John
Dylan Haynes, Stephen Hawking e Richard Dawkins, para citar só alguns. Quase todos,
se não todos, ateus. E porque falo na qualidade de ateus?
Em boa verdade, o ateu—no contexto científico actual—tem
pouca margem de manobra para aceitar o livre arbítrio. Com o que conhecemos da
Neurociência, o livre arbítrio só pode existir sob a influência dum poder
sobrenatural capaz de controlar o determinismo bioquímico e permitir ao homem actuar em
função de princípios abstractos, mesmo contra a tendência biológica.
É crucial este ponto porque envolve a discussão
da responsabilidade, ou da imputabilidade.
Em boa verdade e paradoxalmente, a defesa do livre
arbítrio, sob este ponto de vista, pode constituir argumento de prova da existência
de um ser inteligente, criador de tudo. A menos que a Neurociência—e tal não é
de excluir—venha a encontrar mecanismos libertadores do determinismo bioquímico
de que se julga actualmente estarmos dependentes nos actos e acções.
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