Em 1798, Malthus escrevia no "Ensaio Sobre o
Princípio da População" que a produção de alimentos não seria capaz de
acompanhar o crescimento demográfico. Malthus estava errado.
A situação esteve perigosa no Século XIX, não obstante os
caminhos de ferro, a refrigeração, as enfardadeiras e a navegação a vapor permitirem
que a América enviasse grande quantidade de cereais e carne para as zonas
industriais da Europa. Mas o panorama melhorou com uma inesperada descoberta em
1830.
Nas ilhas das costas sul-americana e sul-africana, onde
não chovia suficientemente para arrastar os excrementos do corvo marinho, do
pinguim e outras aves do género Sula, tinham-se criado ao longo dos séculos
enormes depósitos de azoto e fósforo. Era o guano, cuja exploração se tornou em
negócio com grandes lucros. Só a minúscula ilha de Ichaboe, produziu 800 mil
toneladas de guano em poucos anos. Entre 1840 e 1880, o azoto do guano mudou a
agricultura europeia.
Mas era um bem finito e a crise dos adubos assumiu
aspectos dramáticos no início do Século XX. Em 1898, centenário do ensaio de
Malthus, o químico britânico Sir Williams Crookes dizia, numa célebre conferência,
que a falta de mais hectares para a agricultura na América criava o risco das
populações não terem comida suficiente.
Quinze anos depois, Fritz Haber e Carl Bosch inventavam a
forma de produzir grandes quantidade de fertilizantes de azoto, a partir de
vapor, metano e ar. Actualmente, quase metade dos átomos de azoto do nosso
corpo passou por fábricas onde isso é feito.
Contudo, quiçá ainda mais importante, foi a
descoberta do motor de combustão interna. Os primeiros tractores, embora não
fossem mais eficazes que os cavalos, tinham a enorme vantagem de não
exigirem terrenos para cultivar o seu combustível—em 1915, a população de
cavalos na América exigia um terço de todos os terrenos agrícolas para a alimentar.
A sua substituição libertou enormes áreas de terra para a alimentação humana.
Por outro lado, a mecanização do transporte colocou muitas zonas improdutivas até
aí ao alcance dos terminais de caminho de ferro—distâncias superiores a 100 km
tiravam rentabilidade a esses locais.
Aliado aos factos mencionados, o aparecimento de novas
espécies de trigo, obtidas por cruzamento, vieram mostrar que Crookes, tal como Malthus, estava errado. Em 1931, ano em que ele previa a fome futura, a oferta de trigo
excedia a procura, fazendo cair o preço em flecha; e os terrenos para o
cultivar voltavam a ser transformados em pastos por toda a Europa.
O exposto mostra a falibilidade das previsões científicas apocalípticas, sejam sociais, económicas ou ambientais—antigas e modernas. Devem
ser consideradas, mas convém dar-lhes o valor que a História tem demonstrado
terem. Por isso, fico de pé atrás com os militantes exaltados do apocalipse.
Nunca percebi muito bem o que os faz mover: se a preocupação com o futuro da
humanidade, se a preocupação com o presente deles.
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