Uma
múmia repousa há mais de um século em museus alemães e a respeito dela pouco se sabia até agora. A
história começou em 1890, quando a princesa Teresa da Baviera comprou duas
múmias numa viagem à África do Sul—há gostos para tudo! Uma delas desapareceu,
mas a outra encontra-se na Colecção Arqueológica do Estado da Baviera, em
Munique. Bombardeamentos durante a guerra e transferências sucessivas levaram à
perda de toda a documentação a ela respeitante, tornando-a num enigma.
Estudos recentes trouxeram nova informação e
por isso falo disto porque é notável como se pode saber indirectamente tanta coisas
sobre uma pessoa mumificada há 400 ou 500 anos.
Andreas Nerlich,
paleopatologista da Universidade de Munique, estudou o corpo através de
tomografia axial computorizada, exames de ADN de micro-organismos presente no
corpo, análise bioquímica dos cabelos e rebabá.
Então, o crânio tem uma
fractura frontal—com parte da calote craniana ainda dentro da cabeça—resultante,
muito provavelmente, de traumatismo infligido de forma intencional para produzir a
morte em ritual religioso: a informação histórica adquirida noutros casos
assim faz crer. Foi depois inumada no deserto de Atacama, um dos lugares mais
secos do planeta, onde o calor e o ar seco rapidamente desidrataram o corpo
promovendo a mumificação. E fala-se de deserto de Atacama porque ela viveu na
América do Sul— tem a configuração do crânio característica dos incas; nos
cabelos encontram-se isótopos de carbono e azoto abundantes no milho e peixe
daquela região; e os cabelos estão presos com fitas feitas de pelo de lama.
A vítima tinha entre 25 e
30 anos e foi escolhida porque estaria em fase terminal duma doença grave e
endémica no local onde vivia, a Doença
de Chagas—foi encontrado ADN do parasita Trypanosoma cruzi, agente da doença.
Pode
pedir-se mais? Acho que não! Nem Scherlock Holmes lá ia!
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