Há cerca de 100 mil anos, uma espécie em África começou a
acumular hábitos, geração após geração, sem que tal tivesse correspondido a
alterações genéticas significativas. A causa foi o comércio nascente, a troca
de coisas e serviços entre indivíduos, proporcionando à espécie inteligência externa
colectiva, muito maior do que a que um cérebro normal podia guardar, apesar desse cérebro já ser muito grande. Dois indivíduos tinham ferramentas
diferentes, duas ideias diferentes, mas cada um só sabia fazer, ou
compreender, a sua. Dez indivíduos podiam, em conjunto, conhecer dez coisas,
embora individualmente o conhecimento fosse só de uma. As trocas encorajaram a
especialização, aumentando o número de hábitos, ao mesmo tempo que diminuía o
número de coisas que cada um sabia fazer. A produção especializava-se, o
consumo diversificava-se.
Ao princípio, a expansão da espécie foi lenta, limitada à
dimensão das povoações ligadas entre si. Contudo, pouco a pouco, a espécie cresceu
em dimensão e prosperidade. Quanto mais hábitos adquiria, mais nichos ocupava,
mais indivíduos podia sustentar. E quanto mais indivíduos podia sustentar, mais
hábitos adquiria e mais nichos podia criar.
Havia obstáculos ao processo. Os indivíduos―vindos do
mundo animal―sentiam-se muitas vezes tentados a agir como predadores ou
parasitas da produtividade alheia―receber sem dar. Milénio após milénio o problema continuou.
O escrito é o resumo duma passagem do livro “O Optimista
Racional” de Matt Ridley. Trago-o aqui porque explica muita coisa da nossa
sociedade, 100 mil anos depois do problema começar. Conhecemos bem do que fala. Óh se conhecemos!...
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