segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

OS PREDADORES DA PROPRIEDADE ALHEIA

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Há cerca de 100 mil anos, uma espécie em África começou a acumular hábitos, geração após geração, sem que tal tivesse correspondido a alterações genéticas significativas. A causa foi o comércio nascente, a troca de coisas e serviços entre indivíduos, proporcionando à espécie inteligência externa colectiva, muito maior do que a que um cérebro normal podia guardar, apesar desse cérebro já ser muito grande. Dois indivíduos tinham ferramentas diferentes, duas ideias diferentes, mas cada um só sabia fazer, ou compreender, a sua. Dez indivíduos podiam, em conjunto, conhecer dez coisas, embora individualmente o conhecimento fosse só de uma. As trocas encorajaram a especialização, aumentando o número de hábitos, ao mesmo tempo que diminuía o número de coisas que cada um sabia fazer. A produção especializava-se, o consumo diversificava-se.
Ao princípio, a expansão da espécie foi lenta, limitada à dimensão das povoações ligadas entre si. Contudo, pouco a pouco, a espécie cresceu em dimensão e prosperidade. Quanto mais hábitos adquiria, mais nichos ocupava, mais indivíduos podia sustentar. E quanto mais indivíduos podia sustentar, mais hábitos adquiria e mais nichos podia criar.
Havia obstáculos ao processo. Os indivíduosvindos do mundo animalsentiam-se muitas vezes tentados a agir como predadores ou parasitas da produtividade alheia―receber sem dar. Milénio após milénio o problema continuou.

O escrito é o resumo duma passagem do livro “O Optimista Racional” de Matt Ridley. Trago-o aqui porque explica muita coisa da nossa sociedade, 100 mil anos depois do problema começar. Conhecemos bem do que fala. Óh se conhecemos!...
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