Em dia de inspiração, Demócrito disse que a matéria era constituída por átomos—o que significava indivisíveis—e acreditar que a natureza das coisas dependia das propriedades desses átomos, sendo os da água macios e escorregadios, os do ferro duros e com ganchos para se unirem uns aos outros.
A conversa pode parecer ingénua mas, sabendo o que
sabemos hoje sobre as ligações químicas, foi notável a analogia. Demócrito
estava enganado quanto à indivisibilidade do átomo, mas a ciência actual não
vai muito melhor. Primeiro descobriu-se que o átomo tinha electrões e não era
indivisível; depois que tinha núcleo com protões e neutrões; a seguir que estes
eram feitos de quarks; agora teoriza-se que quarks e electrões são feitos de
cordas de energia; a seguir será preciso explicar de que são feitas essas
cordas de energia; e, quando houver resposta, investigar o que é essa coisa de
que são feitas as cordas de energia e rebabá. A matéria, afinal, é uma cebola
que não pára de largar casca—uma trapalhada! Quanto mais se escava, mais
aparece para escavar e o buraco não tem fim. Não tem fim porque qualquer
que seja o achado, vem sempre a pergunta: de que é feito?
Numa conferência sobre Astronomia—suspeito que já contei
a história—uma senhora idosa levanta-se no fim e diz agressivamente para o
palestrante: "Isso são tudo balelas. Toda a gente sabe que o mundo está
assente nas costas duma tartaruga". O palestrante pergunta-lhe: "E em
que assenta a tartaruga? "ao que ela responde : "São tudo tartarugas
até ao fundo"! Tal e qual—na Física moderna, a estrutura da matéria também
é "tudo tartarugas até ao fundo".
Por isso, e ironicamente, existe hoje uma corrente entre
os físicos de que é inútil escavar. Necessário mesmo é deduzir, adivinhar,
teorizar, partir de princípios indiscutíveis e universais, de baixo para cima—em
suma, fazer o que fez Demócrito: o acelerador de partículas de Demócrito estava
na caixa dos pirolitos!
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