Falámos há dias
da obra em construção no Sul de França, na região de Caradache, onde está a ser
preparada a primeira "estrela engarrafada"; ou seja, a produção de
energia através da fusão de hidrogénio pesado, o deutério, isómero que difere
do hidrogénio porque tem um neutrão no núcleo. Poderá estar pronta dentro de
uma década, talvez menos, e será a mais complexa máquina construída pelo homem.
Chamar-se-á "International Thermonuclear Experimental Reactor", ou ITER,
que significa "o caminho" em latim. Terá cerca de 100 metros de
altura e pesará 33 mil toneladas, mais que duas vezes a Torre Eiffel.
No seu interior, numa câmara de vácuo, uma nuvem superaquecida
de hidrogénio pesado será posta a circular em espiral, a velocidade superior a duas
vezes a do som, "esturrada" por corrente eléctrica e bombardeada com
feixes de partículas com energia suficiente para vaporizar um automóvel em
segundos. O hidrogénio pesado será ionizado e atingirá temperaturas da ordem de
200 milhões de graus Celsius, mais de dez vezes a temperatura do núcleo do Sol.
Nenhum fenómeno na Terra será alguma vez tão quente.
Os átomos do hidrogénio, em estado de extrema excitação
cinética, colidirão uns com os outros e vão fundir-se, originando hélio e
libertando quantidades de energia comparáveis à do Sol, constituída por calor,
raios gama, raios X e um fluxo torrencial de electrões acelerados em todas as
direcções—choque e pavor!
Não há substância capaz de conter tal coisa, sejam metais,
plásticos, cerâmica, cimento, ou diamante. Será obliterada por magnetos
supercondutores arrefecidos até 269 graus abaixo de zero—quase a temperatura do
espaço distante!
E, se tudo funcionar como se espera, a fonte de energia é
inesgotável—o hidrogénio faz mais de 75% da massa do universo e a energia assim
produzida pode resolver o problema do planeta para os próximos 30 milhões de anos (deve chegar, por agora!).
O projecto é financiado por 35 países representando mais
de metade da população mundial.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário